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Exu mirim

‘Sacanagem faz a vida muito mais gostosa nessa terra regida pelos orixás’

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Autor/Imagem:
Cadu Matos - Foto Produção Francisco Filipino

Juquinha era um exu mirim. E pior (ou melhor, depende do ponto de vista), dos mais sacaninhas. Ele tinha 18 anos – praticamente um bebê para os exus – mas preferia aparentar bem menos. Seu nome, claro, não era Juquinha, e sim algo impronunciável por quem não fala exusês. Mas curtia o nome Juquinha, era o que adotava ao baixar nos terreiros. Gostava de jogar bola e incorporava em garotos filhos de Exu para se divertir. Gostava também de sacanear os outros, dando rasteiras, escondendo coisas ou mudando-as de lugar. E gostava de meninas – era esse o problema.

Em plena adolescência, com os hormônios fervilhando, Juquinha era virgem. Já possuía uma larga experiência sexual, mas sempre como “grande elenco”, observando invejosamente os dois protagonistas fazerem coisinhas. Nas vezes em que usara seus poderes para incendiar de desejos uma menina, vira a presa partir em busca de um garoto humano, ou apelar para a boa e velha solução individual. E não era com isso que Juquinha sonhava. Ele queria transar com uma humana em sua forma real. Desejava, em especial, era o seu fetiche, que na hora do orgasmo ela segurasse os seus chifrinhos.

(Um parêntese: exus iorubás não têm chifres, mas séculos de catolicismo e de identificação de exu com o diabo no Brasil incorporaram esses apêndices à representação que os exus fazem de si próprios. Exus mirins, em especial, se reconhecem no Brasinha, herói de histórias em quadrinhos, e muitas vezes adotam a sua forma. Foi o caso de Juquinha, embora tivesse descartado a barriguinha do personagem por um ensaio de tanquinho.)

O exu mirim já estava subindo pelas paredes, dando bom dia a cavalo, quando viu passar um grupo de alunas de um colégio de freiras de Salvador, pastoreadas por uma delas. Uma jovem, em especial, atraiu sua atenção. Mais velha que as colegas, devia ter uns 19 anos, e a imobilidade de seus olhos e de suas feições indicava que era cega.

Juquinha seguiu as moças até o colégio e, à noite, começou a enviar ondas de erotismo para Julieta, a menina cega. Não precisou se esforçar muito, que adolescentes vivem na ponta dos cascos. Além do mais, ela não era mais virgem e sentia muita falta “daquilo”. Depois que a moça afastou a calcinha e começou a se tocar, Juquinha murmurou em sua orelha:

– Você não prefere fazer comigo?

Julieta quase desmaiou, julgando-se assediada por um demônio. Juquinha explicou que não era um diabo, não passava de um exu mirim com um atraso de dar gosto. A moça relaxou e riu de leve, o que animou o exuzinho. Ele acrescentou que lhe enviaria ondas eróticas que a fariam ter prazer como nunca; mas queria transar com ela. Não incorporado num humano, mas em sua forma real. E concluiu, num tom quase inaudível:

– Sei o que fazer, mas ainda sou virgem, morro de vergonha disso.

– O quê? – perguntou a moça.

– AINDA SOU VIRGEM, MORRO DE VERGONHA DISSO!

Julieta pediu que ele falasse mais baixo e sorriu. Lembrou-se, enternecida, de sua única transa, com um garoto tão virgem quanto ela, de como os dois, desajeitados, foram aos poucos descobrindo fontes mágicas de prazer em seus corpos… E tomou uma decisão que a surpreendeu:

– Eu topo, amanhã à noite transamos. Vou me esconder na sala de ferramentas aí na frente, me encontre lá.

Na noite seguinte, Juquinha encontrou Julieta na salinha. Ele havia assumido a forma de um exu jovem, na força dos 23 anos, para ter mais o que oferecer a Julieta. Começaram a beijar-se e em pouco tempo a camisola de dormir da moça estava esparramada pelo chão.

Depois de longas preliminares, durante as quais Julieta descobriu, extasiada, o que uma língua e os dedos de exu mirim podem fazer, veio a penetração. “Aleluia!”, pensou Juquinha, e foi em frente. Quando sentiu a moça começar a tremer, suplicou-lhe:

– Segura aqui pra mim…

Ela estranhou, a coisa dele estava tão bem alojada, mas, obediente, baixou a mão. Ele, porém, a deteve, segurou-lhe as mãos e conduziu-as para cima:

– Não, segura aqui – E colocou-as em torno de seus chifrinhos.

Logo em seguida explodiu de prazer. Julieta fez o mesmo, em orgasmos múltiplos que fizeram o exu mirim morrer de inveja.

Os dois passaram a viver num paraíso exclusivo. A jovem aguarda ansiosa, quase todas as noites, seu inventivo amante chifrudinho. E Juquinha faz menos brincadeiras maldosas, sacaneia menos os outros. Afinal, sacanagem é algo para fazer com a sua amada, coisinhas que tornam a vida muito mais gostosa nessa terra regida pelos orixás.

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