Leonardo Mota Neto
12 de outubro de 1977. Edifício Presidente, em Brasilia, Setor Comercial Sul. A cidade paralisada pelo feriado, e eu visitando Oliveira Bastos em seu pequeno escritório para ouvir planos de criação de um novo jornal na capital. Era sempre plano dele criar jornais.
Não imaginávamos que a poucos quilômetros dali, iria ocorrer naquele calmíssimo dia da Padroeira do Brasil o desfecho de uma crise de poder que sabíamos que estava fermentando nos subterrâneos do regime militar. Só que não para rebentar no feriado. E rebentou.
Um telefonema cortou nossa conversa. Avisava que o general-presidente Ernesto Geisel havia chegado de surpresa ao Palácio do Planalto. Não era aguardado naquela manhã. E estava furioso. Bastos me empurrou para lá.
Na ida soube que no aeroporto de Brasília estava havendo uma operação militar com enviados de Geisel tentando dissuadir os comandantes de Exército e do Alto Comando que chegavam convocados pelo ministro Silvio Frota para irem direto ao Forte Apache, prestar-lhe solidariedade na sua queda de braço com o presidente.
Frota queria decidir naquele mesmo plácido dia tomar o poder das mãos de Geisel. Mas observei que havia mais carros com generais indo opara o Palácio do Planalto do que para o Quartel-General de Frota. O “Alemão” estava ganhando a batalha da sedução.
O que resultado todos sabem: Geisel chamou Frota a seu gabinete e anunciou que o estava exonerando. Não sem resistência do general-ministro do Exército, que bradou: “Não lhe dou o cargo”. “”Mas o cargo é meu” – retrucou Geisel, dando a conversa por encerrada.
Frota foi embora e pegou um avião comercial para Rio. 12 de outubro de 1977 entrou para a história política do Brasil como dia da batalha entre chefes militares que não houve. E eu voltei à reunião com Oliveira Bastos.