Não é raro ouvir alguém falar que todos os cães da raça pinscher miniatura se consideram verdadeiros gigantes, maiores até do que os mais avantajados dogues alemães. Tal afirmação, todavia, não se encaixa muito bem quando o assunto é um buldogue. Quer dizer, pelo menos não naquela linda cadelinha branca com manchas tigradas que adorava dormir agarrada a um enorme osso, que, de tão grande, algum exagerado poderia jurar que teria sido de um dinossauro.
Jurema, gulosa como ela só, vivia fuçando algo apetitoso para comer. Aliás, dizem até que ela possuía o olho maior do que a barriga. Difícil de se acreditar, já que a cadelinha ostentava aquele barrigão. De tão roliça, não é de se admirar se alguém a confundisse com um leitãozinho.
Uma das inúmeras histórias que se conta sobre essa curiosa cachorra é de quando ela foi fazer um passeio em uma fazenda em Goiás. Alguns afirmam que foi em Itumbiara, mas, parece, que o fato aconteceu mesmo em Padre Bernardo. Seja numa ou noutra cidade, isso não importa, pois em nada muda o acontecido, que, seja verdade ou mentira, não deixa de ser uma boa história.
Pois bem, era um dia bem quente, desses em que o astro rei trabalha mais do que o próprio Diabo para manter o Inferno aquecido. Por conta disso, eis que a Jurema, acompanhada das suas três irmãs humanas, resolveu se refrescar num dos riachos da tal fazenda. E lá estavam as quatro parentas naquela água fria, ou melhor, gelada. Mas crianças não estão nem aí para essas coisas, pois gostam mesmo é da bagunça.
Respingo de água para todo lado, eis que a Jurema, numa dessas correrias desembestadas, esbarra na Ninica, que cai de bumbum na água. Todas gargalharam, até mesmo a cadelinha, que abriu um enorme sorriso com aquela língua maior do que a própria boca. Daí, assim que a menina se levanta, eis que ela se depara com uma cobra bem ao seu lado. Uma cascavel! A serpente, talvez assustada, arma o bote para picar a Ninica. No entanto, antes que ela consiga completar o seu intuito, eis que a Jurema abocanha a cabeça da cobra e a engole por inteiro.
Não se sabe como é que aquela buldogue conseguiu esse feito, pois não foi picada nem sofreu qualquer consequência do seu ato. Se essa história é verídica, não se sabe ao certo. Todavia, até hoje é contada pelas três irmãs, que já são grandes. Apesar de não morarem juntas há tempos, cada uma guarda com saudade uma fotografia da Jurema na mesinha ao lado de suas camas.