Hinaide Mikalkenas
Tem dias que acordamos esperando uma boa notícia. Um telefonema de um velho amor, um convite de aniversário de um amigo querido, uma mensagem virtual dizendo o quanto Deus te ama, uma notícia engraçada ou um acontecimento fantástico no noticiário da manhã.
Qualquer coisa que te faça sentir especial, mais colorido que a massa cinzenta do dia a dia, menos igual, menos engrenagem, mais peça essencial.
Olhar para o seu cotidiano e achar graça daquilo que nos é de graça não é tão óbvio quanto possa parecer. Requer de nós mais que olhos, requer de nós uma sensibilidade e um despertar que vai muito além do fato de estarmos acordados e de rosto lavado.
Requer um comprometimento com a vida e com as sua circunstâncias que faz de nós verdadeiros artesãos anônimos e necessários. Requer andarmos pelas ruas sendo multidão e ao mesmo tempo únicos.
Aí está a beleza da humanidade: podemos estar com muitos, mas não perdemos a nossa unidade. Podemos ser grandes e não perdemos nossa pequenez vivida na infância.
Afinal, podemos ter muito poder e dinheiro mas continua em nós o nosso primeiro choro de fome e medo de abandono.
Chegado então a conclusão que recebo uma boa notícia todo dia: eu existo. Existo a despeito do ar poluído, da falta de água, dos mananciais corrompidos, da comida contaminada. Existo, apesar da falta de compaixão, do abraço escasso, do carinho contado. Existo no meu levantar de cada dia. Quem cria a boa notícia sou eu, quem faz a história engraçada pode ser eu, quem manda a mensagem de amor é o meu celular.
Sim, posso ser eu a diferença no dia, pode ser o meu agir o acontecimento inesperado, basta eu estar disponível a isso, basta eu dizer “sim” ao diferente, basta dizer “sim” estou presente à graça de estar vivo com suas mazelas e seus encantos, com seu gozo e sofrimento. Afinal, os opostos fazem parte de mim. A necessidade e a abundância está neste ser, que ao acordar sente-se constrangido com a perspectiva imensa do dia por vir mas, ao deitar não é mais o mesmo, enriqueceu-se com as pequenas coisas, e, quem sabe, tornou-se um pouco melhor do que era!