Notibras

Salete, a tresloucada, acha maneira de ficar rica

Não sei se é verdade ou se foi apenas uma brincadeira da Salete, a senhora que mora aqui ao lado. Que ela é doida, não resta dúvida. Tanto é que, não raro, alguém lhe diz na lata: “Ih, Salete, nem vou tentar argumentar. Quem discute com louco também não é bom da cabeça.”

A despeito de tamanha insanidade, de tantas besteiras proferidas, talvez uma ou outra coisa possa ser aproveitada, assim como acontece com aquela pepita de ouro escondida numa infinidade de areia. Vai quê! Pois foi o que parece que aconteceu por esses dias, justamente na porta da creche, onde fui buscar a minha filha. Lá estava a Salete de bate-papo com a Neide enquanto também esperavam por suas crias.

Ah, antes que me esqueça de um detalhe importantíssimo, é bom lembrar que aquelas duas mulheres adoram fazer uma fezinha no jogo do bicho. No entanto, talvez por azar ou falta de entendimento sobre os significados dos sonhos sonhados por elas ou por outrem, até onde se tem notícia, nunca acertaram nem no grupo, quanto mais no milhar a seco.

Azaradas que são, as duas tentavam decifrar como ficar rica no jogo do bicho. Pensa daqui, pensa dali, eis que a Saleta, quase gritando com aquela voz característica de gralha, abriu aquele sorrisão.

— Que jogo do bicho que nada, mulher!

— Como assim, Salete?

— Neide, quem fica rico é o banqueiro, nunca o apostador.

— Tá. E daí?

— Vamos criar o jogo da fruta.

— Jogo da fruta?

— Sim! Abacaxi, ameixa, amora, banana, carambola, jabuticaba. Vai ter até melancia, que é a minha fruta favorita.

A conversa prometia, mas chegou a hora de pegar a Carol, minha garotinha. Voltei para casa pensando naquela ideia. Gente, até que a Salete, depois de tanta areia, conseguiu cuspir uma pepita de ouro.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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