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Rixa com marido

Salete, se quisesse paz, casaria com pomba branca

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Desassossegada? Enervada? Estressada? Certamente tudo isso e mais um tanto de inquietude, irritação e até frustração, que, nem com reza brava, davam conta do que era a perturbada Salete. A mulher, além de não levar a vida na maciota, atazanava a do marido, sem contar os respingos que, certeiros que nem flechas de Robin Hood, atingiam quem se atrevesse a cruzar seu caminho.

Quem não gostava da atitude da resmungona era justamente quem mais a conhecia. Martinha, que sofrera nove longos meses com a filha na barriga, penou muito mais quando a espevitada veio ao mundo. Mãe de primeira viagem, chegou a imaginar que tamanha sina era por conta de algo terrível acontecido em vidas passadas. Teria ela grudado chiclete na cruz? Antes tivesse criado o cinto de castigada. Quanto martírio por míseros minutos de luxúria.

Martinha, sem ter a quem recorrer além do esposo, tratou de dividir a provação de criar a rebenta. Nada que fizesse a cria mais palatável, pois seria malcriada mesmo com as melhores babás. Diante de tal encruzilhada, o casal nem recorreu àquelas palmadas tão aclamadas naqueles tempos. Se o pau já havia nascido torto, não seriam chineladas que o fariam direito. Seja como for, parece que tal pensamento surtiu certo efeito, pois Salete, apesar do gênio terrível, sempre teve extremo amor pelos pais.

Não entendam carinho como forma de apaziguar uma mente nervosa. Não mesmo! Ih, esquece! Se a Salete se sentisse disposta a travar batalhas por ninharias, não se dava ao trabalho de parar diante da luta, ainda mais quando a guerra fosse das grandes. E o que aconteceu foi justamente naquele sagrado dia que boa parte das famílias ao redor do mundo se reúne para destilar veneno entre os seus. Sim, isso mesmo, no Natal.

Sem papas na língua nos dias comuns, não seria justamente nessa data especial que a Salete recolheria a peçonha para poupar a parentada. E tratou de atirar o engasga-gato para todos os lados, pois, segundo seu próprio pensamento, de água benta o mundo já estava calejado. No entanto, a despeito de todo sortilégio de impropérios, nenhum desconhecido pelos familiares, de tão acostumados com a rabugice da Salete, eis que a Martinha parece não ter gostado de algo que a filha disse sobre o Agnaldo, o genro.

— Salete, minha filha, como é que você trata o seu marido assim?

— Mãe, deixa quieto, que me resolvo com o Agnaldo.

— Deixo, não! Você deveria viver em paz com o seu esposo!

— Mamãe, se eu quisesse paz, teria me casado com uma pomba branca.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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