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Salles, sócio oculto ou laranja das madeireiras?

A revista IstoÉ desta semana publica uma longa reportagem sobre “a misteriosa história do ministro Ricardo Salles com madeireiros ilegais”. A matéria é bombástica e ajuda a reforçar o pedido dos partidos de oposição pela abertura imediata de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os crimes ambientais deste devastador de fama mundial.

Segundo a reportagem, que apresenta vários documentos exclusivos, “a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) investigam a ligação do ministro do Meio Ambiente com integrantes da família de Walter Dacroce, suspeita de grilagem de terras públicas no Pará”.

A fortuna de R$ 130 milhões em madeira ilegal
Essa sinistra família foi uma das fontes de abastecimento da empresa Rondobel Madeiras, a proprietária de parte dos 200 mil metros cúbicos de madeira ilegal apreendida pela Polícia Federal no Amazonas em novembro de 2020. A ação criminosa de desmatamento rendeu uma fortuna avaliada em R$ 130 milhões.

“Mesmo ciente de que as investigações da PF indicavam que a madeira era fruto de fraudes e de desmatamento ilegal, o ministro foi ao local nos dias 31 de março e 7 de abril defender os criminosos. Salles chegou a descer de helicóptero do Ibama em uma das fazendas dos Dacroce, usadas na extração ilícita de pelo menos 43 mil toras cortadas irregularmente, como demonstração de apoio aos exterminadores das florestas”, relata a revista.

Essa postura provocativa é que levou o delegado Alexandre Saraiva, responsável da PF pela investigação, a denunciar o ministro ao Supremo Tribunal Federal “por advocacia administrativa e por obstar a ação fiscalizadora do Poder Público”. A suspeita é de que Ricardo Salles obteve “vantagens de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais e crimes ambientais”.

Walter Dacroce, o grileiro profissional
“A revista IstoÉ teve acesso aos documentos que embasaram as apurações dos crimes contra o meio ambiente e traz, com exclusividade, quem são os personagens que estão no centro das investigações que colocam o nome de Salles como suspeito de participar do esquema mafioso de madeira ilegal”.

O principal alvo da investigação é Walter Dacroce, “considerado um grileiro profissional. Ele serviria como uma espécie de ‘agente’ que localiza as terras devolutas e até de aldeias indígenas, viabiliza a grilagem por meio de parentes, incluindo seus filhos, e abre caminhos para que a madeireira Rondobel explore ilegalmente as áreas ocupadas”.

Outro alvo é Francine Cella Dacroce, nora de Walter Dacroce. Na sua propriedade – também visitada por Ricardo Salles –, a polícia encontrou parte da madeira ilegal que foi apreendida. “A PF suspeita que ela seja laranja de Walter, o grande capo do esquema mafioso na Amazônia. Outras propriedades da família estariam ligadas a Leonir Dacroce, filho de Walter, que chegou a ser candidato a prefeito de Palmitos (SC), em 2016”.

As “vantagens” do ministro bolsonariano
Segundo a bombástica reportagem da revista IstoÉ, o ministro ricaço e ambicioso do laranjal bolsonariano teria obtido “vantagens” nestas relações com a máfia das madeireiras. O delegado Alexandre Saraiva encaminhou ao Supremo uma notícia-crime contra Ricardo Salles, apontando-o como “integrante, na qualidade de braço forte do Estado, da organização orquestrada por madeireiros alvos da Operação Handroanthus”.

“Um dia após encaminhar a denúncia, Saraiva foi exonerado do cargo, dando contornos ainda mais nebulosos nesta história envolvendo o ministro com os madeireiros ilegais”. Em depoimento na Câmara Federal, o delegado foi categórico: “O ministro estaria atuando e favorecendo madeireiros. E isso foi feito de uma forma explícita. Tem vídeo dele apontando para a placa de uma empresa investigada que, segundo ele, ‘estava tudo certinho’, quando, na verdade, já existia em relação a essa empresa até laudo pericial apontando as irregularidades cometidas”.

Ainda de acordo com a revista, “investigadores apuram por que foram anuladas multas milionárias em nome de parentes de Walter Dacroce e que foram aplicadas pelo Iterpa e pelo Ibama. Os madeireiros investigados pela PF receberam 20 autos de infração, que resultaram em multas de aproximadamente R$ 8,4 milhões, mas muitas delas foram ‘perdoadas’ pelas autoridades ambientais. Os investigadores querem saber se houve interferência política para essas infrações terem sido anuladas”.

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