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Salomão perdeu apertado, mas a 13ª Vara continua na berlinda

Dia desses, um amigo contribuinte da cidade de São Paulo teve sua declaração de rendimentos rejeitada pela Receita Federal. Tudo isso porque, além de honesto nas respostas, ele foi correto e realista. A Receita não entendeu dessa forma. Diante da pergunta “Você tem dependentes?”, o amigo respondeu: “Tenho 513 deputados federais, 81 senadores, 94 deputados estaduais, 55 vereadores, 150 mil servidores públicos e 180 mil criminosos recolhidos à prisão”. Os últimos números são relativos a São Paulo. Pois a Receita considerou o preenchimento inaceitável. De quem ele teria esquecido? Provavelmente do desmontado cabaré de Curitiba.

Ele esqueceu, mas o ministro do STJ Luis Felipe Salomão, não. O Brasil teve essa resposta no primeiro dia desta semana. E quem a tornou pública foi Salomão, também corregedor nacional de Justiça. Ele emparedou e afastou os juízes Gabriela Hardt e Danilo Pereira, respectivamente ex e atual titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, acusados de desrespeito à Lei Orgânica da Magistratura, entre eles o descumprimento dos deveres funcionais e o rito formal de andamento dos trabalhos. Tudo isso no bojo da investigação da Operação Lava Jato. Também estão na mesma berlinda os desembargadores Thompson Flores e Loraci Flores de Lima, ambos do Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

Na noite de terça-feira (16), por nove votos a seis, o Conselho Nacional de Justiça revogou em parte a decisão de Salomão. Os dois juízes recuperaram os cargos e as funções, mas os dois desembargadores permanecem afastados. Ou seja, o caso ainda não está encerrado. Como o presidente do CNJ, ministro Luís Roberto Barroso, pediu vistas, o mérito sobre a abertura de processo administrativo disciplinar dos magistrados está por vir.

Diante da repercussão da bombástica notícia, o mais relevante foi o grito de silêncio do senador Sérgio Moro, citado por Salomão como o principal ator das “graves irregularidades” descobertas no palco então iluminado da Vara fria do Paraná.

Não fosse sério, a piada do conclave curitibano é uma decorrência das maracutaias da Lava Jato, comandada por Moro, o juiz que, imediatamente após tirar Luiz Inácio do páreo presidencial, vestiu a capa de capacho de Jair Bolsonaro. Está nos autos. O ex-juiz foi pego com as calças na mão e sem as cuecas. O ministro Salomão não iria brincar com coisa séria.

No relatório elaborado pelo corregedor, o Trio Vara Bamba, formado por Moro, pelo ex-procurador e ex-deputado e pela juíza Gabriela, é acusado de supostamente tentar desviar R$ 2,5 bilhões. Os valores envolvidos são tão absurdos como absurda foi a ação do então titular da 13ª Vara. Conforme dados repassados ao CNJ pela Polícia Federal, Sérgio Moro, no melhor estilo Odorico Paraguaçu, abriu processo “sigilento” para permitir que a Petrobras fosse “alimentada” com recursos de delação e de leniência, sem que houvesse “questionamentos”.

De acordo com relatórios da PF, a intenção é que parte desses valores pudesse ser direcionada por integrantes da Lava Jato. Quem? Quem? Quem? Isso a Globo ainda vai mostrar. A brincadeirinha com o seu, o meu, o nosso rico dinheirinho começou quando integrantes da operação, de olho grande em parcela da multa de US$ 853,2 milhões aplicada à estatal brasileira, fizeram uma negociação paralela com o governo dos Estados Unidos.

Pelo acordo, R$ 2,5 bi voltariam ao Brasil. E voltaram em 2019. Nos finalmente, a 13ª Vara, já comandada pela juíza Gabriela Hardt, substituta de Moro, determinou a destinação desses valores a uma fundação de direito privado. E sabem de quem seria a gestão da bufunfa? Dos integrantes da Lava Jato.

É o esquema de cash back, conforme denominação do ministro Salomão. Para azar do Brasil do caveirão e sorte do Brasil do povão sofredor, estava de plantão no inferno dantesco da pátria Alexandre de Moraes, o careca mais amado do país. Sem mexer nos cílios, ele suspendeu a criação da fundação e bloqueou o capilé ainda na vara.

Não devemos ser de todo injustos. A 13ª Vara desbaratou um dos maiores esquemas de corrupção já vistos na Terra Brasilis. No entanto, defecou na saída ao transformar a ideia de combate aos corruptos em negociações de interesses particulares. Por isso, em algum momento, Sérgio Moro, a juíza Gabriela Hardt e as demais excelências de toga terão de se explicar.

Enquanto isso, fica a indignação e a indagação: em quem acreditar no paraíso chamado Brasil e na corrutela denominada Curitiba?

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