Notibras

Salva-vidas alerta, mas tem quem prefira perder braço

E lá estavam aqueles dois querendo entrar nas mornas águas da extremidade sul da praia de Boa Viagem, a despeito de tantas placas alertando sobre o enorme risco de ser atacado por tubarões. Pior que eles, além de não estarem nem aí para os avisos, ainda resolveram tirar onda com o salva-vidas, que se encontrava bem ali sossegado.

— Se a gente não entrar na água, periga de você perder seu emprego.

— Por favor, senhores, não entrem no mar.

— Ué, quer mesmo perder o emprego, meu amigo?

— O meu trabalho é evitar que os usuários da praia não percam as pernas nem os braços.

— Ah, então tá! Quando avistarmos algum tubarão se aproximando, vamos gritar socorro bem alto.

O salva-vidas ainda tentou convencer aqueles dois, que estavam cada vez mais irredutíveis. Não pareciam embriagados, apesar do hálito etílico, que, certamente, lhes proporcionava ainda mais coragem para enfrentar aquelas fileiras infinitas de dentes pontiagudos.

Como em todos os lugares quando acontece uma contenda, juntou-se aquele mundaréu de curiosos. Alguns ficaram obviamente ao lado do salva-vidas, enquanto outros, talvez sanguinários, soltavam palavras de incentivo para que os dois incautos fossem se refrescar no lar, doce lar dos tubarões.

Enquanto aquela pendenga se prolongava, eis que passou uma idosa de lá seus 90 anos. Ela, de mãos dadas com uma garotinha de não mais que 10, já estava acostumada com aquela cena, pois era moradora do bairro há tempos.

— Vovó, por que aquele povo tá brigando?

— Na certa, tem algum maluco querendo mergulhar no mar.

— Ué, mas e os tubarões?

— Vamos, vamos! Discutir com gente assim não vale a saliva de um papagaio.

Sair da versão mobile