Espumante oportuno
Santa Klaus libera Chandon para o Natal dos incendiários fracassados
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emEstá escrito que todo homem que se vende recebe muito mais do que vale. Às vezes, recebe o que não espera. Neste fim de ano de confirmação do naufrágio do navio golpista, muitos dos pobres coitados que embarcaram na canoa furada do sonho golpista devem estar pensando o que pedir ao Papai Noel. O perdão não cabe mais. Mesmo que negociada, a confissão também não. O que sobrou? Nada que possa convencer ou dissuadir o Bom Velhinho. Associado a Deus acima de tudo e de todos, Santa Klaus já anunciou que o máximo que pode fazer pelos brasileiros de péssimo comportamento desde novembro de 2022 é desejá-los melhor sorte na morada sem janela que se avizinha.
O cartão de Natal para os meninos e senhores do terror já está rascunhado: “Aqueles que negam liberdade aos outros não a merecem para si mesmos”. Nada mais verdadeiro e oportuno para quem resolveu brincar com coisa séria. Duas dúzias e meia de maus brasileiros quiseram tocar fogo no país e amanheceram mijados da cabeça aos pés. Onde quer que já estejam ou vierem a estar, o melhor para o período será se contentar com a espumante certa para a ocasião: a Chandon, envelhecida nos barris da casa de carvalho do xerife Xandão. É o máximo que os fracassados incendiários merecem.
Fora disso, só os livros de filosofia ou de autoajuda para consumo diário. Quem sabe depois desse estágio sem remuneração entre na cabeça dos destiladores do ódio e da violência gratuita que melhor do que lidar com uma má consciência é conviver com uma má reputação. E isso eles hoje têm de sobra. Talvez nunca aprendam, mas, no calabouço ou no enclausuramento de uma embaixada, certamente aparecerá alguém com experiência de vida para lhes dizer que não há mal que dure para sempre, da mesma forma que não há verdades absolutas.
Durante uma daquelas visitas guiadas pelas palavras de Deus, provavelmente surgirá um mais sábio para informar aos desafortunados da extrema-direita desvairada que para viver bem e ser feliz nesse mundo é preciso radicalizar e estrangular a consciência pesada. Antes do castigo de joelho no milho, os autocratas e “patriotas” passivos poderiam ter pensado que mais triste do que o recolhimento forçado (prisão no jargão popular) é o esquecimento. Quem mandou se achar superior aos que, como eu, preferem viver livres de amarras ideológicas.
E se o golpe tivesse dado certo? Aí o papel de trouxa seria meu e de todos os que defendem a democracia. Sei que é quase impossível não refletir negativamente nos momentos de solidão. Aos que perderam o timing do possível, cabe concordar com a tese de que a metade de suas laranjas já virou suco. Como dizem os poetas, às vezes temos de esquecer o que queremos para começar a entender o que merecemos. Não sou do tipo que ri da desgraça alheia, mas a poesia citada parece ter sido pensada para a turma do Chandon.
Poetizando ainda mais, o que era expectativa virou realidade bem antes do que esperavam os amantes da paz. Obviamente que ainda estamos bem longe do melhor dos mundos. Todavia, devemos louvar a possibilidade de se livrar de maus perdedores e de governantes que, por capricho ou pelo desejo do poder eterno, encomendam a morte de adversários em praça pública. A esses, cuja opinião é igual a anúncio do Youtube: a gente ignora em cinco segundos, lembro uma célebre frase do não menos célebre Abraham Lincoln. O que Lincoln disse sobre a escravatura nos Estados Unidos aplica-se facilmente ao Brasil do golpismo: “Se o golpe não é mau, nada é mau”.
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*Misael Igreja é analista político de Notibras