Tiro à traição
Santana, policial distraído, interroga vítima morta
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emE o Santana, que precisou ir até o hospital da região, para onde um homem havia sido socorrido. Preguiçoso que nem seu reflexo no espelho do banheiro da delegacia, o policial não teve escolha. Catou um bloquinho e uma caneta e foi até o nosocômio tentar arrancar alguma informação da vítima.
Enquanto o Santana arrastava o corpanzil até o hospital, os agentes Tavares e Ana Luísa rumaram para o local do crime a fim de entrevistarem alguma possível testemunha. Segundo se falava à boca pequena, Gabriel de Souza Pinto, vulgo Cenoura, comandava o tráfico de drogas na região. No entanto, parece que andava com problemas com alguns até então aliados, tudo por conta de repartição de lucros.
Aparentemente, ninguém sabia ao certo, quem teria sido o autor do disparo, apesar da cena ter acontecido às 15h no bar mais agitado naquele domingo, quando metade dos moradores estava por ali bebendo e degustando algum tira-gosto enquanto aguardava por mais um Fla-Flu. Ana Luísa, que há pouco havia entrado na polícia civil, olhava aquela situação com incredulidade. Como era possível que ninguém soubesse quem era o autor daquele tiro? Até que Tavares, cana antigo, puxou a colega para o canto.
— Ana, essas pessoas estão com medo de falar. Elas sabem, mas vamos com calma para não espantar o preá.
A policial, apesar de nova na profissão, entendeu a metáfora. Tanto é que, perspicaz como ela só, conseguiu descobrir como a situação havia se dado. Cenoura, acomodado em uma das inúmeras cadeiras, copo de cerveja na mão esquerda, frango a passarinho na outra, sorria a vida como se não houvesse amanhã, quando, inesperadamente, alguém se aproximou sorrateiramente e disparou contra a nuca do traficante. Tudo à traição!
Enquanto isso, no hospital, lá estava o Santana. Ele avistou a vítima deitada em uma maca no corredor. Olhos arregalados voltados para o teto, Cenoura parecia incrédulo com a própria situação. Santana se aproximou, sacou o caderninho e a caneta do bolso e começou a interrogar o baleado.
— Cenoura, sou o agente Santana. Preciso lhe fazer algumas perguntas. Pois bem, quem atirou contra você?
Sem receber resposta, Santana continuou o interrogatório.
— Pelo visto, o senhor não quer falar. Está com medo de represálias. Mas pode ficar tranquilo, que estou aqui para proteger a sua integridade física.
O Cenoura continuava mudo, até que uma enfermeira se aproximou do velho policial.
— Ei, esse homem está morto.