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Dia de Jorges

Santo guerreiro inspirou Francisco contra idolatria que mata de fome e sede

Publicado

Autor/Imagem:
Mathuzalém Junior - Foto Editoria de Artes/AI

A terça (22) foi dia de Xandão no Supremo Tribunal Federal, mas hoje, dia 23 de abril, é Dia de Jorge, o santo guerreiro da Igreja Católica. Padroeiro da Inglaterra, Jorge é venerado tanto pelas igrejas Ortodoxa e Anglicana quanto por religiões afro-brasileiras como a Umbanda e o Candomblé, onde é sincretizado com o orixá Ogum. Ou seja, como Jorge Ben (Jorge Ben Jor para os mais novos) cantou (e canta) em verso e prosa, o santo católico jogou nas 11. Segundo o bando de loucos, só não vestiu o manto sagrado do Sport Clube Corinthians porque, na época, o estilista contratado era flamenguista e não permitiu tal acinte.

Embora sua existência seja baseada em narrativas lendárias e apócrifas, Jorge, um valoroso soldado romano, teria nascido na Capadócia (atual Turquia) por volta do ano 275 d.C. Há registros de que, como cristão, ele teria se negado a perseguir e matar os irmãos que professavam uma das modalidades do cristianismo. Por isso, em 23 de abril de 303 d.C foi decapitado por ordem do tirano Diocleciano, então imperador de Roma. Ficção ou não, Jorge da Capadócia perdeu a cabeça, mas ganhou vida na história dos mártires, dos amantes do futebol, da feijoada e dos fogos de artifício.

Queiram ou não os idólatras de mitos inventados pelo pastor Silas Malafaia, até hoje o soldado e seu cavalo branco são lembrados pela derrota que, no período das Cruzadas, impuseram a um dragão para salvar uma princesa e uma cidade, evento que se tornou um símbolo da vitória do bem sobre o mal. Aliás, o dragão simboliza a idolatria que mata inocentes e causa destruição. A idolatria é vencida pelas armas da fé, símbolo da lança na mão de São Jorge, o profeta para os muçulmanos e o jovem virtuoso e corajoso para os evangélicos, que se recusam a venerá-lo como fazem os católicos.

Para os que são simples, preocupados com o próximo e que buscam somente justiça, Jorge da Capadócia será eternamente um daqueles santos ao qual confessamos todas as nossas mazelas, inclusive a ignorância não assumida, cuja base pode ser vista como a raiz do sofrimento. Como tudo na vida do santo está na condicional, quem sabe o Jorge da Capadócia e de todos os continentes e religiões não tenha influenciado a família do homônimo de Buenos Aires e morto nessa segunda-feira (21), após 12 anos à frente da Igreja Católica. Francisco, cujo nome secular era Jorge Mario Bergoglio, personalizou o que São Jorge pregou: a fé, a esperança e a confiança.

Presença marcante em letras de música, sambas-enredo e outros elementos culturais, a figura de Jorge da Capadócia está viva, presente e perene no imaginário do povo, na religiosidade popular, no folclore, no esporte, na cultura e na geografia. Nunca soube se ele realmente foi morar na lua. O que sei – ou acho que sei – é que Jorge levou o “parceiro” Bergoglio para junto de si. Primeiro e talvez o único pontífice da história da Igreja Católica, Francisco também viveu e morreu reverenciado e respeitado pela quase totalidade do Planeta Terra, incluindo árabes, judeus, evangélicos do bem, umbandistas, kardecistas, ortodoxos russos e até muçulmanos menos radicais.

Como dificilmente admitem unanimidade, os fundamentalistas que povoam algumas igrejas evangélicas e os parvos da seita bolsonarista ignoravam o papa apenas porque ele era um homem do povo e não da elite tacanha, abusiva e pernóstica. Vale lembrar que, de forma sincera ou não, até Jair Bolsonaro reverenciou Francisco. Segundo o ex-presidente, “a figura do papa sempre foi sinal de unidade, esperança e orientação moral. Sua partida nos convida à reflexão e à renovação da fé, lembrando-nos da força da espiritualidade como guia para tempos de incerteza”. Se verdadeiro, Bolsonaro terá dado um grande passo rumo à canonização. Se falso, descerá mais um degrau do cinzento inferno. Em qualquer das hipóteses, terá de se explicar junto ao conclave das bestas feras, para as quais ser do povo é sinônimo de esquerda. Sobre Xandão, todos os ministros da 1ª. Turma do STF seguiram seu voto e aceitaram a denúncia contra mais seis aliados de Jair Bolsonaro na trama golpista de 8 de janeiro de 2023. E viva Jorges!

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*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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