“Seu apartamento pelo preço de um carro: o menor e mais inteligente apartamento do Brasil.” É com essa premissa que a incorporadora e construtora Vitacon prepara o lançamento de um edifício, no Bom Retiro, região central, que terá unidades de 14 metros quadrados – oficialmente, o preço e a data de lançamento ainda não foram divulgados, mas corretores cravam valores a partir de R$ 89 mil e início das vendas na próxima terça-feira (17). Se o preço é de um carro, a área interna equivale a duas Kombis.
É uma tendência. Levantamento obtido pelo Estadão mostra que, de 2005 a 2014, o número de unidades lançadas em São Paulo com menos de 40 metros quadrados saltou de 960 para 7.810. Até setembro, já são 3.170 lançamentos do tipo na cidade. Os dados são da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp).
“Isso aconteceu porque os imóveis se tornaram muito caros em São Paulo. As unidades menores surgiram como soluções não proibitivas”, analisa Fernando Pompeia, diretor de Planejamento e Pesquisa da Embraesp. “E o mercado vive de ciclos. Se uma empresa lançou apartamento muito pequeno e fez sucesso, outras vão atrás.”
O cenário é confirmado por outro estudo da Embraesp, que detalha como a metragem dos novos apartamentos da cidade está despencando. Um imóvel de um quarto lançado em 2009 tinha, em média, 55,69 metros quadrados. Neste ano, caiu para 34,37 metros quadrados.
Considerando a totalidade de unidades lançadas na cidade, de todos os tamanhos e padrões, a média era de 79,7 metros quadrados em 2009 e, agora, está em 58,04 metros quadrados.
No discurso da Vitacon, o formato compacto é uma “resposta à crise”. “A gente se especializou neste segmento”, admite o CEO da empresa, Alexandre Lafer Frankel. A média de tamanho dos apartamentos dos 40 empreendimentos já entregues pela construtora é de 28 metros quadrados. “Vivemos um momento de mudança social, em que as pessoas têm menos necessidade de espaço. Nossas unidades representam menor custo e um ganho em sustentabilidade e praticidade.”
Em 2013, a mesma Vitacon lançou um empreendimento na Vila Olímpia, zona sul, com unidades a partir de 19 metros quadrados. O prédio deve ser entregue no ano que vem. Seguindo a mesma onda, em 2014 foi a vez da Setin anunciar um prédio, no centro, com imóveis a partir de 18 metros quadrados, com previsão de entrega em 2017. Já o empreendimento do Bom Retiro, em que 14 das 269 unidades terão os tais 14 metros quadrados, deve ficar pronto em 2018.
“Reduzir de 19 para 14 metros quadrados foi um salto gigantesco”, diz Frankel. “Mas não acho que chegamos ao limite. O limite é a necessidade das pessoas. No Japão, já há apartamentos de 6 metros quadrados.”
Visões – “Do ponto de vista da necessidade, não há sentido em moradias tão pequenas. O desejo do público é morar numa casa cada vez maior”, afirma o arquiteto Henrique de Carvalho, do Ateliê Tanta “O que a construtora faz é tornar o apartamento cada vez mais viável em espaços menores.”
“Eu não conseguiria viver num apartamento pequeno assim. Mas deve ser o jeito de solucionar o problema de quem precisa morar perto do emprego e não tem como arcar com os altos custos da região”, afirma o arquiteto e urbanista Lucio Gomes Machado, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). “Um apartamento pequeno assim obriga que toda a vida social seja feita externamente. É uma mudança de comportamento.”
“Se há um lado ruim nesse fenômeno, há talvez um lado bom, que é a conscientização das pessoas em relação aos espaços públicos”, diz o arquiteto Rodrigo Marcondes Ferraz, do escritório FGMF Arquitetos.
A resposta do mercado é o melhor estímulo para as construtoras continuarem apostando nos pequenos espaços. Antes mesmo do lançamento, as unidades do Bom Retiro já têm fila de espera de mais de 30 interessados. “Vai lançar e esgotar em duas horas”, afirmou um corretor.