Gilberto Amêndola
No quinto dia de protestos em São Paulo contra o impeachment de Dilma Rousseff, cerca de 400 manifestantes, segundo organizadores, se concentraram na noite de sexta-feira, 2, em um trecho da Avenida Brigadeiro Faria Lima, em Pinheiros, na zona oeste da cidade, próximo ao Largo da Batata.
A manifestação, que começou pacífica, terminou com oito detidos na Avenida Eusébio Matoso por danos a patrimônios ou depredação de viaturas.
Eles foram encaminhadas para o 14.º Departamento de Polícia (DP) de Pinheiros. Quatro dos detidos eram maiores de 18 anos, sendo três homens e uma mulher. Eles permaneceriam na delegacia até ao menos este sábado e a polícia informou que, por também serem acusados por desacato a autoridade, poderão ficar detidos por mais dias. Já os quatro menores apreendidos seriam liberados após prestar depoimento na madrugada.
De acordo com a advogada Pâmela Marsura, que representa os adolescentes, três deles foram detidos quando estavam dentro de um ônibus – que, segundo a versão dela, foi parado por policiais –, enquanto voltavam para casa. O quarto adolescente teria sido apreendido dentro de um posto de gasolina.
Cerco – Antes da realização das prisões, na concentração do ato, uma indefinição em relação ao trajeto fez com que a Tropa de Choque da Polícia Militar mantivesse o grupo em uma espécie de cercado.
Gritos de “fora, Temer” e contra a PM foram os mais repetidos no local. “Essa é a face mais truculenta do golpe. Estão cerceando nosso direito de manifestação. É a volta da ditadura”, disse a estudante Renata Farinari, 23 anos. “O que eles não entendem é que não vai ter ‘arrego’, que governo e polícia vão ter que nos enfrentar”, afirmou o também estudante Felipe Siqueira, de 19 anos.
Por volta das 21 horas, os organizadores do ato sugeriram que houvesse uma desmobilização – e que as energias fossem guardadas para o protesto de domingo, na Avenida Paulista. Pouco depois o grupo começou a se dispersar. Parte dele, no entanto, voltou para o Largo da Batata.
Black blocs – Em seguida, um grupo menor, de cerca de 50 pessoas, seguiu para a Rua Cardeal Arcoverde. Entre eles, haviam black blocs. No trajeto, latas de lixo foram queimadas.
Pessoas que estavam voltando para casa, nos pontos de ônibus, se assustaram com a movimentação e entrarem nos bares próximos. “Cara, que inferno, uma semana inteira trabalhando e na sexta não consigo voltar pra casa”, afirmou o eletricista Américo Chaves, de 42 anos.
Na Eusébio Matoso, a confusão foi maior. Pontos de ônibus foram depredados e pelo menos duas concessionárias de automóvel tiveram os vidros quebrados.
Bombas de gás lacrimogêneo foram atiradas contra os manifestantes, que seguiram para a Marginal Pinheiros. Ao tentar fugir dos policiais, uma pessoa que filmava o ato foi atropelada e ficou ferida.
Ato no domingo – Os organizadores dos protestos queriam iniciar a concentração a partir das 14h do domingo, mas, nesta quinta, 1, a SSP divulgou nota afirmando que qualquer ato estava proibido no local por causa da cerimônia de passagem da tocha paraolímpica pela avenida. O texto provocou imediata reação dos manifestantes, que reivindicaram o direito constitucional à livre manifestação.
Um acordo firmado entre representantes da Secretaria de Segurança Pública (SSP) estadual e das frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular estabeleceu que o protesto de lema “Fora Temer! O povo deve decidir” está liberado para acontecer a partir das 16h30 na Avenida Paulista, em frente ao Masp. A negociação, mediada pelo prefeito Fernando Haddad, encerrou o impasse entre manifestantes e a SSP com relação ao horário do ato.