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Jornalistas

São tresloucados, comunistas, dizia a área de Segurança

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Marcelo Brandão
Carolina Paiva, Edição

Na época da ditadura (1964-1985), órgãos da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) monitoravam de perto aqueles que eram considerados ameaça ao regime militar: comunistas e militantes de movimentos de esquerda. A SSP-DF mantinha perfis de vários jornalistas, principalmente os que tinham alguma ligação com partidos de esquerda ou sindicatos.

Ao descrever os jornalistas, a secretaria adotava um vocabulário informal, às vezes, grosseiro, revelando o temor do governo de um levante comunista na capital federal sob liderança dos profissionais de imprensa.

“Elemento nervoso e mal-educado”; “mau caráter” e “arrogante e insolente”, dizem os documentos sobre alguns profissionais. Sobre um deles, disse a SSP: “para encobrir sua qualidade de comunista, costuma exibir uma foto ao lado do papa Paulo VI”.

Sobre outro, destacou: “não consta que seja comunista. Ao que parece, [é] um inocente útil”. Um foi descrito como “picareta” e “vaselina”; outro, como “vaidoso e medíocre”, embora escrevesse mal e tivesse seus comentários revisados antes de publicados.

Os documentos, antes confidenciais, agora estão disponíveis para consulta no Arquivo Público do Distrito Federal.

Em 1977, jovens profissionais de tendência esquerdista aliaram-se a nomes consagrados na imprensa e formaram a chapa Sindicato Livre para tentar derrotar o grupo que, desde o golpe de 64, comandava o Sindicato dos Jornalistas do DF. A Divisão de Informações da SSP-DF compilou dados de todos os componentes da chapa.

Um deles era Hélio Doyle, que foi chefe da Casa Civil do governo de Rodrigo Rollemberg. “É comunista”, dizia a SSP sobre a orientação política de Doyle. Armando Rollemberg, irmão do atual governador, foi identificado como “muito ligados ao comunista Hélio Doyle” e Heloísa Doyle, citada como “irmã do comunista Hélio Doyle”.

“Sabíamos que existiam agentes infiltrados, já tínhamos ideia disso. A gente ia para os lugares e tinha que tomar muito cuidado, porque nas manifestações tinha sempre alguém olhando. Não surpreende que existisse monitoramento, que tivessem informações”, disse Doyle.

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