Ainda hoje, mesmo não valendo mais um pum no reino da “Deinamarca”, Arlindo Orlando não perdeu o prazer de rir da desgraça alheia. Carcará do papo amarelo, ele nunca foi coveiro, enfermeiro, marceneiro ou leiloeiro. Entretanto, adora um corpo frio, um hospital sem vacina, uma floresta sem madeira e um pregão no fundo de um barco destinado a resgate de vítimas de enchentes. São prazeres mórbidos, mas é assim que ele, de parachoque meio bambo e louco para correr do batente, sobe no jet ski e, sem dó, dá ré na catástrofe e desaparece no meio da fumaça amazônica que ele criou, mas insiste em dizer que não é dele.
Joia rara e arábica, adorador do Pavilhão Nacional enrolado no pescoço dos tocadores de bumbo e ponta direita do Olho Vermelho Cana Clube, nosso herói das revistas sem texto é uma figura que só se acha nos dias festivos. Pró-Putin, pós-Trump e criador da teoria anti tudo que é bom, Arlindinho Lasca Nós não dá bola para o azar, mas, literalmente, não dá uma dentro. Precoce na hora H, do dia D e do momento X, quando consegue, joga toda a água mole em pedra dura fora da bacia. É um artista sem palco e com os holofotes apagados.
E daí? Não importa que ele não disponha mais do alfinete para golpear o inimigo. Além das fake que não assustam mais, há o marimbondo de fogo de estimação preso ao bolso direito da calça de moletom. O traiçoeiro bicho normalmente tem os ferrões prontos para beliscar quem ousar atravessar seu caminho florido. Coração de pedra e pé gelado, Arlindo Orlando leva toda a parceirada que encosta em seu pescoço para a casa do Barbalho, figura política que o incomodou governando e vai incomodar mais ainda ministrando na Corte Suprema. Personagem circense da mitologia analfabeta, o sujeito em questão é fã dos sertanejos que cantam e encantam o próprio chifre e os alheios.
Sem margem de erro, diria que é a chifrolândia do século XXI. Os sertanejos e seus fãs famosos não escondem a idolatria a um falecido poeta baiano do século XX que tinha por máxima sempre tentar outra vez. Sem preocupação alguma, sua alteza sem trono – e agora seus seguidores – reúne missionários da milícia da fé na Avenida Paulista ou na orla de Copacabana para reiterar que a vitória não está perdida, principalmente porque “é de batalhas que se vive a vida”. Permitam-me meter o bedelho no fedelho. É apenas para lembrá-lo que faz pouco tempo a tunda que levou na banda da direita. Foi uma sapecada daquelas que a gente não esquece nem rebolando.
Acostumado a nadar contra a maré, o moço nascido no circo e criado em cima do pau de sebo está furibundo com as chuvas de maio, sobretudo as que caíram sobre o Rio Grande do Sul, terra de todos os parças embandeirados e do parça maior. Falo do tucano que perdeu o bico, mas não perde a pose, tampouco a empáfia, mantida brilhante graças ao poder regenerador do Sabão Aristolino, bom para banhos gerais e parciais. De coco ou de potássio, Aristolino também é recomendado para ciúmes de governantes que aparecem demais e para a cura de moléstias decorrentes do clima que não perdoa sequer os tomadores de chimarrão em cuias de alumínio fosco da nova linha da Tramontina.
O que o moço não sabe é que acima das nuvens negras que desabaram sobre os Pampas há um buraco negro infestado de ratos, lacraias, jabutis e sapos barbudos, os quais têm feito de tudo para ficar em paz com os girinos locais. Dizem as más línguas que, justamente entre as terras de Javier Milei e José Mujica, Adão e Eva criaram seu cafofo. Afirmam, inclusive, que foi ali que o triunfo deu-se. Eva comeu a maçã, pegou Adão e criou-se a barafunda. Eis a razão da vermelhidão colérica de Arlindo Orlando. Ele pensou a chuva somente para ele, mas as águas começaram a cair em 29 de abril, primeiro dia do alerta vermelho. Tudo a ver. Daí, as maçãs viraram abacaxi de Marataízes e, no fim e ao cabo, quem está comendo a fruta é o lobo bobo, travestido de galo, cujo número no jogo do bicho é 13. Como Deus escreve certo por linhas tortas, vale o que está escrito.
*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras