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Sapucaí, templo do Carnaval, abre alas para dar passagem à primeira estatueta

O Brasil sempre foi o país do improvável. Do futebol-arte que dribla a lógica, da música que transcende fronteiras sem precisar de tradução, da gambiarra que resolve problemas que nem a ciência explica. E agora, em um espetáculo de afirmação e reconhecimento, até a Sapucaí abriu alas para deixar passar o rolo compressor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro para “Ainda Estou Aqui”.

O mundo finalmente percebeu o que sempre soubemos: há algo de grandioso e irrepetível na alma brasileira. O filme, que atravessou fronteiras, conquistou corações e calou críticos, não foi apenas uma vitória do cinema nacional. Foi uma vitória do Brasil profundo, do Brasil que resiste, que se reinventa e que, de tempos em tempos, exige o seu lugar ao sol.

Na noite do desfile das escolas de samba, quando os tamborins rufavam e os carros alegóricos dançavam ao som da genialidade carnavalesca, um outro carro alegórico, metafórico e real, chegava a Hollywood rumo à consagração. Como se o Oscar, por uma vez na história, tivesse compreendido a essência do nosso país e se rendido a ele.

Os gringos ficaram boquiabertos, talvez porque nunca tivessem visto uma narrativa tão intensa e visceral. Mas para nós, a consagração não foi surpresa. Sempre soubemos que nossa arte pulsa diferente, que nossa cultura tem cores que não se desbotam e que nossa história é contada com suor, lágrimas e um sorriso insistente no canto da boca.

Na noite-madrugada desse domingo-segunda não era só a estatueta dourada que brilhava. Era o Brasil inteiro, refletido nos olhos marejados de quem sempre acreditou que nossa grandeza não precisa de permissão para acontecer. E como diria o poeta, se duvidam da nossa força, é só esperar o próximo Carnaval – ou o próximo Oscar.

O Brasil sempre teve o brilho, só faltava o Oscar para refletir o que já sabíamos: nossa arte é grandiosa. E agora, sob os holofotes do mundo, Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello entram para a história como os primeiros a trazer para casa a tão sonhada estatueta dourada.

Foi preciso talento, foi preciso coragem, foi preciso ser brasileiro. Walter Salles, esse mestre da narrativa, que já havia nos levado por estradas emocionantes em Central do Brasil, agora pavimentou o caminho definitivo para o cinema nacional no palco mais cobiçado da sétima arte. Seu olhar apurado e sensível transformou Ainda Estou Aqui em um fenômeno, um retrato da alma brasileira que emocionou o planeta.

E que trio de gigantes carregou essa conquista! Fernanda Torres, com sua entrega visceral, provou mais uma vez porque seu nome está cravado entre os maiores da dramaturgia. Uma atriz que não apenas interpreta, mas vive, pulsa e transcende a tela. Já Selton Mello, essa entidade do cinema nacional, emprestou sua genialidade a um filme que não poderia ter outra alma senão a dele.

Se o mundo abriu alas, foi porque a Sapucaí já havia feito o mesmo. O Brasil, que sempre foi grande na música, na literatura e no futebol, agora finca sua bandeira na elite do cinema. Ainda estamos aqui — e desta vez, com o Oscar na mão.

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Malu Oliveira é Editora de Leitura Vip de Notibras

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