José Escarlate
Napoleão Saboia, jornalista, morava em Paris. Um dia, foi convidado pelo saudoso coleguinha, Reali Júnior, o “Realinho”, meu velho companheiro nas jornadas paulistanas, para uma feijoada em sua casa. Com a mulher Amelinha e as filhas, Adriana, Luciana e Cristina, Reali Jr morava em um pequeno prédio perto da Torre Eiffel.
Era um apartamento confortável, com cerca de 100 metros quadrados, o que é enorme, em Paris. Claro que o Napô topou, mas perguntou ao Realinho: “posso levar o Zé ?” Mesmo sem conhecer o tal Zé, ele concordou: “Claro que pode”.
Na hora aprazada, chega à casa do Realinho o Napoleão Saboia, como sempre todo despenteado, trazendo a tiracolo o Zé, que não era outro senão José Sarney, na época presidente do PDS, que apoiava a revolução. Reali Jr gelou.
A maior parte dos convidados era composta de brasileiros exilados que deixaram o país banidos pelos militares. Sarney, político com tarimba, comportou-se muito bem e até parecia ser um dos exilados. Foi sufocado por perguntas, mas tirou de letra. Com seu temperamento conciliador, acomodou-se entre eles, com elegância.
Meu amigo Realinho era filho do delegado Elpídio Reali, diretor do DOPS e que foi secretário de Segurança do Estado de São Paulo. Ele desarticulou a organização secreta “Shindo Renmei”, um grupo terrorista criado no interior paulista. Mesmo assim, Reali Jr foi perseguido pela revolução, deixando o país rumo a Paris. Dia 8 de abril de 2011, em São Paulo, aos 71 anos, Elpídio Reali Júnior morreu de infarto fulminante em sua casa. Na manhã seguinte, ao som de uma antiga transmissão sua, feita às margens do Sena, na Maison de la Radio, o corpo do jornalista Reali Júnior foi cremado no cemitério da Vila Alpina.