Notibras

Saxofone épico, como o próprio nome do álbum diz

Pedro Antunes

Kamasi Washington não tinha tempo livre – entre turnês, tentava criar as composições que iriam para seu primeiro disco solo. The Epic, como ele foi chamado, começou a ser gravado em 2011 e só finalizado em dezembro de 2014. Chegou às lojas no ano seguinte.

Com quase três horas de duração, o trabalho era o sonho do saxofonista de produzir a própria música e deixar o posto de músico acompanhante para trás. “Eu queria que esse disco fosse o reflexo de quem eu sou. Ontem, hoje e amanhã”, explica o músico. O álbum, mesmo com sua extensa duração, foi elevado a grande lançamento de jazz do ano.

E colocou os holofotes no grupo de jovens jazzistas que têm incendiado a Costa Oeste dos Estados Unidos. Sob o nome de West Coast Get Down, o coletivo de 20 músicos se apresenta desde o início da década em casas especializadas em jazz pelas cidades da Califórnia. São, grande parte deles, amigos de infância que estudaram e cresceram como músicos juntos. Foi a eles que Kamasi recorreu quando deu início aos trabalhos de The Epic, seis anos atrás. “Alguns deles eu conheço desde que tinha 3 anos. E sempre sonhamos em fazer a nossa música. Usá-la para unir as pessoas e espalhar a nossa cultura”, conta. Para isso, ensaiavam e praticavam seus instrumentos por até oito horas diariamente.

Antes de começar a gravar The Epic, Kamasi via que o sonho dele e dos amigos estava distante – conheça alguns discos dos integrantes da West Coast Get Down no quadro ao lado. “Estávamos gravando e tocando com outros músicos, mas não fazíamos nada para nós mesmos.” Para o disco, Kamasi convocou todos, mas a dificuldade para reunir os músicos também foi responsável pelo longo período de gestação do disco de estreia do saxofonista.

E The Epic é uma jornada pela vida de Kamasi Washington dividido em três partes, The Plan, The Glorious Tale e The Historic Repetition (em tradução livre, seriam “O Plano”, “A História Gloriosa” e “A Repetição Histórica”). E o restante dos amigos músicos da Califórnia é parte importante dessa narrativa. Em The Plan, as canções são cheias de esperança. Vibram, justifica o saxofonista, porque representam a juventude dele e dos artistas amigos. “É o momento que sonhávamos com o nosso futuro.”

A segunda parte dá conta dos anos depois dos estudos, quando Kamasi e companhia foram jogados para o mundo e rodaram em turnês e shows pelo globo com outros artistas. Aqui, as faixas têm uma intensidade latejante, como se fosse possível ver o suor escorrer da testa nas noites de shows seguidos. Por fim, o terceiro ato de The Epic chega ao presente com a liberdade de apresentar esse novo jazz, progressivo e fusion, para o mundo.

Sair da versão mobile