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Se ‘Brasil acima de tudo’ é o que vale, Damares precisa cair na real

Foto: Wilson Dias/ABr

Há 13 dias do início implantação do novo governo, diametralmente oposto aos que sucedeu, Jair Bolsonaro já pode considerar um fato comum entre o seu e outros mais antigos: ele também tem um ministro Magri. O ex-presidente Fernando Collor afirmava que seu ministro do Trabalho o fazia rir.

Acusado de receber 30 mil dólares de propina, Rogério Magri ficou famoso pelas pérolas que dizia. É dele a expressão “imexível”, depois perpetuada pela imprensa como sendo ele um personagem “imorrível”.

O Magri de Bolsonaro é a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves. A diferença é que o que ela diz não tem graça nenhuma, ao contrário de Magri, e as colocações da nova ministra sobre temas delicados são de profunda gravidade. Além disso, grife-se, é proba, sem qualquer passado que a condene.

O problema são as análises isentas e equilibradas de parte da imprensa menos sensacionalista sobre as funções de um ministro em um Estado laico, como o Brasil, onde não é possível um executivo federal confundir o privado com o público. Em apenas duas semanas repercutiram diversas passagens com Damares que devem ser melhor orientadas pelo chefe maior do Executivo. Ou de sua inteligência.

Vale consultar o IBGE sobre o percentual de evangélicos instalados no país antes de recuar sobre orientações devidas. Não é possível desencadear uma guerra da fé no Brasil, país onde vivem em paz diversas correntes religiosas. Damares Alves afirma que subiu em um pé de goiaba e Jesus correu atrás dela. Isso é um fato privado, para consumo entre amigos e fiéis, uma vez que ela é pastora. E agora ministra.

Os católicos acreditam no milagre português de Fátima, em que os primos pastorinhos Lúcia, Francisco e Jacinta viram Nossa Senhora de Fátima por seis vezes e anteciparam os três milagres: 1. O fim da primeira e o início da segunda Guerra Mundial; 2. A ascensão e queda do comunismo soviético; 3. O atentado ao Papa João Paulo II, na Praça de São Pedro, em 13 de maio de 1981. Profecias confirmadas.

Os que têm fé acreditam. Ninguém pretende perguntar se no pé de goiaba em que a ministra trepou aos 10 anos, imbuída de tomar veneno para morrer, os frutos tinham bichos. Segundo ela, nos galhos tinha Jesus correndo atrás para salvá-la.

Se Charles Darwin viajou na Teoria da Evolução porque era um idiota, e por ser autor de uma tese, já está esclarecido que é uma hipótese. Qualquer outra teoria também é uma hipótese, respeitadas as crenças, ainda que desprezando a Ciência.

A declaração de Damares sobre o tema foi outra bomba de efeito retardado. Além de ter dado importância ao fato do artista Serguei, segundo ela panssesuxal, ter afirmado curtir relações íntimas com bicicletas. Nem Magri cairia numa polêmica semelhante, ainda que risível.

Com absoluta segurança, a quase totalidade da massa que votou em Bolsonaro não concorda com um direcionamento religioso para questões que afetam brasileiros de todas as correntes de fé. O que está acontecendo é um perigo. O Brasil não quer pastores comandando o país, simplesmente por serem pastores. Os brasileiros querem brasileiros orientando direitos e deveres, não crenças e folclores.

Damares afirma que subiu no pé de goiaba aos 10 anos de idade. Nessa mesma idade, os bem educados já tinham lido a obra de José Mauro de Vasconcelos, Meu Pé de Laranja Lima. Lá o menino Zezé também viajou na maionese. Todos com 10 anos viajam na maionese. Na literatura ninguém questionou a sanidade do menino.

Os católicos, por exemplo, acham que não viajaram no caso de Fátima. Tudo bem, esperaram a última pastorinha sobreviver à febre espanhola muitos anos depois para acreditar. Mas definir os rumos de uma nação como o Brasil, não pode ter um viés mediúnico, improvável, nada científico. Collor deve estar morrendo de rir. Afinal, Bolsonaro encontrou o seu Magri.

Judeus, budistas, muçulmanos, hindus, cristãos, somam a maior população religiosa da Terra, com todas as suas centenas de correntes. Gente que votou em Bolsonaro. O líder atual do Brasil não poderá ser refém de uma preferência doméstica porque seria um ato de vaidade apenas.

Será ou não será um Brasil acima de tudo? Damares já encheu, Magno Malta!

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