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Se é para o bem do povo, digam ao povo que eu faço

Foto/Arquivo Notibras

Marta Nobre e Rebeca Seabra

O deputado Alberto Fraga é um homem autêntico. E prevenido. Para citar um exemplo claro do modo de pensar desse homem que costuma pedir a Rodrigo Rollemberg que respeite o povo, basta lembrar que ele acaba de fazer uma cirurgia no dedo médio da mão direita. Nada de urgência ou emergência, mas de futuro. “O tendão estava incomodando. E antes que atingisse a mão toda, resolvi operar”.

Pode até soar estranho – por que preocupar-se com o indicador, e não, por exemplo, com o polegar, o anelar, ou o mindinho? Fraga, presidente do DEM no Distrito Federal e virtual candidato ao Palácio do Buriti em 2018, responde sem meias palavras. “Preciso estar inteiro para praticar tiro (sem identificar o alvo) e cumprimentar muita gente”.

O tom é de autoridade (não necessariamente autoritarismo, nesse caso), típico de quem tem formação militar. Afinal, o deputado é coronel da PM de Brasília. Quando vestia farda, partia para o confronto no combate a criminosos.

A conversa com Fraga, em uma mesa da Confeitaria Praliné, na 205 Sul, foi descontraída. Houve alguma interrupção, provocada por pessoas que, identificando o deputado, faziam questão de parar, cumprimentar e tirar uma selfie. O prato principal foi a sucessão no Buriti. E, claro, a busca de soluções para os principais problemas que atormentam a população.

Costurando uma aliança – Deixando de lado a velha teoria de que bandido bom é bandido morto – até porque, nem todo mundo está disposto a bater de frente com a turma dos direitos humanos –, Fraga se preocupa no momento em viabilizar uma costura política que lhe garanta chegar ao posto mais alto da administração da capital da República.

Avalia que tem tudo para ser o cabeça-de-chapa dentro de um grupo de centro-direita, onde estariam, segundo ele, Alírio Neto (PTB) e Jofran Frejat (PR).

Outros nomes ele não descarta para compor a chapa majoritária. É o caso de Tadeu Fillippelli (PMDB) e Izalci Lucas (PSDB). Porém, diálogo com o tucano, sublinha, tem sido difícil, apesar de ele considerar que no final será possível formar uma chapa forte em condições de sair vitoriosa.

Especificamente sobre Eliana Pedrosa, ex-deputada distrital e atualmente sem partido, Fraga acha “que se fechar com o grupo, terá garantido um mandato de deputada”.

Na avaliação de Fraga, embora não tenham sido eleitos no último pleito, “a gente não pode desprezar a força política de Alírio e Frejat”. Ele entende que Alírio “é um político jovem, que está sabendo conduzir seu partido e construindo uma carreira política sólida”.

Quanto a Frejat, é, sob o ponto de vista do deputado, “um grande administrador; foi o melhor Secretário de Saúde que Brasília já viu. Infelizmente não teve sucesso na última eleição quando disputou o Palácio do Buriti”.

Nessa costura para compor uma aliança forte, Fraga acena para o lado dos evangélicos, a quem pediria a indicação de um vice. Contudo, reconhece, “há um problema a ser resolvido entre eles próprios”.

A questão, segundo Fraga, é que os evangélicos não se entendem. “Até parece uma Torre de Babel; cada um fala uma língua diferente”. Mas o deputado promete, apesar de tudo, “lutar para que haja um consenso em prol de Brasília”.

Mágoas de Arruda – Outro grande puxador de votos, que segundo o presidente regional do DEM não disputará uma eleição majoritária em 2018, é José Roberto Arruda. Só para lembrar, Arruda está envolvido até o pescoço em ações, e dificilmente será liberado para disputar uma eleição em 2018.

Aliás, sobre o ex-governador, Fraga se mostra magoado, por não ter ouvido uma manifestação pública de Arruda à sua pré-candidatura.

– Fiz tudo por ele (Arruda). Briguei com gente poderosa para trazê-lo para o DEM, para viabilizar a candidatura dele. Quando Arruda renunciou e foi preso, emprestei todo o meu apoio, minha solidariedade. Tanto que não fugi do lado dele e apareci na foto, ao contrário do que muita gente fez, afirma. Porém, evasivo, não cita nomes, como quem não deseja ferir suscetibilidades.

Depois de apoiar muita gente, Fraga entende ser chegada a hora de receber apoios

Água de Roriz – Na esperança de chegar ao Buriti, Fraga acena para o eleitor com uma Brasília transformada num paraíso onde jorrará não apenas lei e mel, como previu Dom Bosco, mas também água, cuja falta tanto aflige a sociedade.

“A solução para a crise hídrica está em Corumbá 4, projeto que Roriz iniciou e ninguém concluiu”, acentua. E sorri para as repórteres, ressalvando que isso não deve ser visto como um afago ao clã Roriz, mesmo enfatizando que é uma família que merece respeito e que tem muita densidade eleitoral em todo o Distrito Federal, em particular pelos feitos do ‘Velho’ Joaquim.

Para quem conhece Alberto Fraga apenas pela sua atuação como coronel da PM, se surpreende ao constatar que esse sergipano, nascido na cidade de Estância e pai de três filhos, todos brasilienses, e botafoguense de coração, entende e está preparado para os desafios da administração pública.

Em quase duas horas de conversa, Fraga mostrou a sua preocupação com o alto índice de desemprego – quase 20% -, que atinge a nossa cidade.

– É preciso ser firme para administrar uma cidade onde os jovens que estão saindo das faculdades não têm perspectivas de emprego; as empresas estão fechando as portas ou se transferindo para outras cidades, diz.

Outra área atacada foi a da saúde pública. “Os aparelhos da rede pública de saúde não funcionam, com a população morrendo nas filas dos hospitais por falta de atendimento”, alfinetou. Depois cutucou “a ineficiência do transporte público e outras tantas áreas que precisam ser reavaliadas com urgência para que a população volte a acreditar que Brasília é a melhor cidade para se viver”.

Rollemberg é o caos – Sobre segurança, maior especialidade de Fraga, ele garante que se for eleito para dirigir os destinos de Brasília, não repetirá erros de Rollemberg, que “importou duas figuras que não conhecem nossa realidade”.

Suas críticas veladas são dirigidas à ex-secretária Márcia Alencar, e ao atual, Edval Novaes. A primeira, que veio do Recife, tentou implantar um projeto falido em Pernambuco. Quanto ao segundo, deixou o Rio de Janeiro – onde era o segundo em comando na área de segurança – com índices de criminalidade inimagináveis.

A solução para reduzir a violência no Distrito Federal, pondera Fraga, está na capacidade de pacificar a Polícia Civil e a Polícia Militar, e oferecer melhores condições de trabalho. “As duas forças precisam trabalhar pensando na sociedade. Nada justifica a briga entre um delegado e um coronel. Para resolver isso como governador eu vou revezar a cada ano um representante de cada uma das duas categorias no comando da secretaria. Entra um coronel, sai, entra um delegado. E vice-versa. O respeito voltará e trará junto a paz de que a cidade tanto precisa”, garante.

Fraga globaliza campanha sem promesssas. Mas garante que se é para o bem do povo, ele diz que fará

Diz que fará – Fraga ainda não é candidato, mas espera ser o alfaiate que dará os últimos retoques na costura em andamento. Sobre Rollemberg, supostamente maior adversário na batalha eleitoral que vem pela frente, o deputado não vê mais motivos para atacá-lo.

“Ele é um governador que não tem experiência, incompetente e tem um índice de rejeição de mais de 70%”, lembra.

Não tendo por que bater em Rollemberg, que ele considera politicamente morto, Fraga já estuda um novo slogan. Sai, portanto, o velho bordão ‘Governador, respeita o povo’. O novo jargão, lembrando Dom Pedro, será algo do tipo ‘Se é para o bem do povo, digam ao povo que eu faço’.

Até porque, sob o ponto de vista de Fraga, está na hora de Brasília gritar independência e se livrar de velhas raposas políticas e de novatos que se vestem de cordeiro em pele de lobo.

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