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Se homem fosse perfeito, seria Deus; Barroso propõe só ajustes

Os ministros Luiz Fux, Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, durante sessão do STF que retoma julgamento sobre o compartilhamento de dados bancários e fiscais.

Senhor da razão, o tempo (sempre ele) nos dá discernimento, responsabilidade, coragem, a mão e a palmatória. Subjetivos, palpáveis e sempre baseados no livre arbítrio, esses mecanismos estão à nossa disposição para admitir eventuais erros e para acompanhar a evolução da vida e do mundo. O objetivo deve ser mudar de posicionamentos na medida que nos aperfeiçoamos como pessoas.

Como perfeição não é uma mercadoria, mas sim um conceito personalista e evolutivo que se adquire ao longo de várias existências, apenas os escolhidos conseguem alcançá-la depois de numerosas tentativas.

Portanto, àqueles que se preocupam com o perfeccionismo principalmente com o dos outros, pediria que lessem Ética a Nicômaco, uma das mais importantes obras de Aristóteles. Nela, o filósofo grego afirma que perfeição é uma impossibilidade, algo que jamais será atingido. Conforme Aristóteles, o que devemos perseguir é a excelência, que é factível, pois significa somente o melhor possível.

Sem juízo de valor, diria que quem cobra correção esconde uma vida de erros. E os erros são inerentes ao ser humano, sejam eles lulistas, bolsonaristas, fernandistas, lavajatistas, parasitas, revanchistas, flamenguistas ou segundistas (nada a ver com o Vasco da Gama).

O tempo, as coisas e as pessoas mudam, umas para melhor, outras para pior. E assim caminha a humanidade, incluindo os mandatários, os ministros do STF, os congressistas e os cidadãos comuns.

Defensor do entendimento de que, por mais longa que seja a caminhada, o mais importante é dar o primeiro passo, defendi recentemente as ideias do novo presidente do Supremo Tribunal, ministro Luís Roberto Barroso, que pretende agilizar os julgamentos e de torná-los menos ortodoxos, de modo a facilitar o entendimento da sociedade. Cartesiano por definição, normalmente me pauto exclusivamente pela razão.

Foi com razoabilidade que vi nas propostas do ministro Barroso, a quem conheci somente como bom advogado e a quem conheço pelas posições contrárias à imbecilidade dos que insistem em cerrar fileiras com o atraso e com o ódio, ora representados pelo que ainda resta da extrema-direita. Farei o mesmo comentário no dia em que os ministros bolsonaristas se revelarem magistrados isentos, ideologicamente alinhados com os fatos e sem a necessidade de descontar débitos passados em votos.

Sempre que posso, lembro do ministro Carlos Velloso, que, em 1992, embora “com profundo pesar”, condenou por corrupção passiva Fernando Collor, presidente que o havia indicado dois anos antes para o colegiado.

Certamente alguns colegas e o mandatário incluíram Velloso na lista de seus piores inimigos. No entanto, o ministro aposentado até hoje dorme em paz e com a consciência tranquila. No fim e ao cabo, pessoas certas não existem. Estamos todos errados procurando alguém que aceite nossas imperfeições.

Em outras palavras, somos o somatório de todas as coisas e pessoas que conhecemos e com as quais aprendemos. Faço minhas as palavras de Fernando Pessoa: “Adoramos a perfeição porque não a podemos ter; repugna-la-íamos se a tivéssemos. O perfeito é o desumano, porque o humano é imperfeito”.

São os degraus do ser. Por isso, acredito piamente na vontade de Luís Roberto Barroso em construir um novo presente e um futuro alvissareiro para o STF, independentemente de seu passado lavajatista (?). O bom senso recomenda que, em lugar de buscar a perfeição no semelhante, busquemos mudar o modo de olhar para ele.

Parafraseando o escritor e historiador francês Voltaire, posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo. Todavia, “se o homem fosse perfeito, seria Deus”.

*Presidente do Conselho Editorial de Notibras

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