Se penso em Lummiér e Mèllies, vibro e sinto a magia
Se vibro com tanta Intolerence, penso Griffith, em fantasia
Se quero construir a linguagem, Eisenstein, Vertov, fio de tramas
Se busco a alma, fico em Chaplin, vagabundo das coisas poéticas
Quantas vezes o cinema me iluminou?
Por caminhos de Ford, Welles, Glauber, Antonioni
Basta viajar por aí afora
Nas tardes circenses dos cinemas
Nas bomboniéres dos dropes e torrones
Pegar Oscarito, Otelo, Mazzaropi
Personagens de uma chanchada nacional eterna
E se não fosse Goudard, Trauffaut, Resnais?
Nossa vida seria bem pequena
Um Miúra trancado na moldura do quadro
Como bois acuados numa arena
E veio Bruenell nos libertar
Com a navalha e o cúmplice Dáli
Pra dizer que o amor é imortal
Numa Bela da Tarde a Catherine
Além da estética e do pecado
Dali, de lá, de todo o mundo
A navalha imortal nos olhos do moribundo
A vida e o cinema é todo um século
Imagens de imagens a multiplicar
Como a flor é uma flor, é uma flor
E a dor é uma dor a se espantar
O cinema será e será e será.