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Se ordem é trair, gado rompe velha cerca e se pica para outros pastos

O presidente nacional do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, fala com a imprensa no Centro de Eventos e Convenções Brasil 21, em Brasília.

Nada pior para alguns homens do que o velho ditado que eles nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes. Na secular política brasileira, formada esmagadoramente por homens, o provérbio faz tempo não é mais exceção. Seus representantes inventaram a arte de trair os interesses reais e legítimos, ao mesmo tempo em que criaram outros imaginários e injustos. É uma questão de caráter e, sobretudo, de decisão. Como jogaram a fórmula no lixo, frequentemente vivem de jogar bola nas costas do companheiro, parceiro ou interesseiro. É a velha tese de que trair e coçar é só começar.

Para eles, trair não é defeito, mas opção. Interessante é que os políticos amam a traição e odeiam o traidor. Vale registrar que pensar na rasteira já é uma emboscada consumada. As eleições da capital de São Paulo e as de Curitiba, onde Jair Bolsonaro traiu o próprio partido, mostraram claramente os políticos assustadoramente compulsivos no quesito traição. Quem? Quem? Quem? Os próceres do PL e até o mito Jair Bolsonaro. Traição do tipo generalizada. Tudo em casa. Em tese fechado com a reeleição de Ricardo Nunes (MDB), o ex-presidente ficou furioso quando soube que seus principais pelegos debandaram para o lado de Pablo Marçal (PRTB). No entanto, ele achou correto fazer campanha para o MDB na capital paranaense.

Jair ficou pussesso da vida, mas pouco ou nada fez para merecer o título de carreador de votos para o prefeito paulistano. Pelo contrário. Conforme todos os analistas, o avanço de Nunes ao segundo turno deve ser creditado exclusivamente ao governador Tarcísio de Freitas. Que não se fale isso alto, porque significa consolidar inimizades com os rebentos do capitão, notadamente Carlos Bolsonaro, vereador reeleito pelo Rio de Janeiro. Jair pouco apareceu em São Paulo, mas, segundo o filho 02, a maioria dos votos de Ricardo Nunes saiu do balaio eleitoral que o velho mantém inalterado na capital paulista. Há controvérsias. E muitas. Fosse verdade, a candidatura do farsante Pablo Marçal teria fracassado no nascedouro.

Não há dúvida de que, cansado do mesmo feno, o gado cortou o arame farpado, rompeu a cerca e se picou para outros pastos. Que o digam Valdemar Costa Neto, o pastor Silas Malafaia, o governador Ronaldo Caiado, além de vários deputados, entre eles Nikolas Ferreira (PL-MG), Marco Feliciano (PL-SP) e Ricardo Salles (PL-SP), todos insatisfeitos com o comandante. O que é isso, companheiros? O fato é que, para quem já se achou dono da tendinha da direita, Jair Messias hoje está mais para o comprador do caderninho, o popular fiado. É o consumidor que empurra seus compromissos para o futuro. Cuida dele e da família, mas finca as dívidas, acordos e promessas no prego mais alto da parede extrema da vendinha.

Com todo respeito aos conterrâneos, age como um típico carioca. Refiro-me àquele sujeito faceiro, bom de lábia e torcedor do time que está na ponta do campeonato. No subúrbio ou na Zona Sul, o dito cujo não perde uma boca livre, mas, ao convidar um velho conhecido para o churrasco dançante do fim de semana em sua residença, deliberadamente esquece de dar o endereço. O castelo de areia construído sobre um monturo de areia movediça começou a ruir, na mesma proporção em que o outro extremo está encolhendo. Quebram, encolhem, mas se unem para, fisiologicamente, votar a favor da PEC que limita decisões monocráticas do Supremo Tribunal Federal.

Resumindo, tudo o que votam ou fazem é de acordo com o que sempre acreditaram na vida, isto é, sacanagem. Mais uma questão de caráter. Sobre a provável futura debandada geral do guarda-chuva bolsonarista, cada um tem o direito de escrever sua própria história. Afinal, quando o calo aperta, ninguém vai sentir ou tirar o sapato por alguém. Quem anda de havaianas ou de sapatinho jamais saberá os caminhos trilhados pelo outro, tampouco a tristeza que ele escondeu, o sorriso que não deu, o afeto que recebeu e o amor que não percebeu. Portanto, considerando o resultado das eleições municipais, tudo indica que a nova caminhada da direita terá categoria 1: sem ofensas, xingamentos, insultos e, tomara, fake news.

*Sonja Tavares é Editora de Política de Notibras

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