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Seca do El Niño provoca chuva de gafanhoto faminto em províncias da Argentina

taque inesperado de gafanhotos surpreendeu três províncias do noroeste da Argentina nos últimos meses. É o pior ataque do inseto “em mais de cinquenta anos”, segundo o engenheiro agrônomo Diego Quiroga, diretor nacional de proteção vegetal do Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentária (Senasa) do país.

Em entrevista por telefone, ele atribuiu o fenômeno à mudança do clima. “Primeiro, tivemos uma forte seca durante três anos (2012, 2013 e 2014) nas províncias afetadas pela praga, e no ano passado um inverno com temperaturas altas e fortes chuvas”, disse à BBC Brasil.

O gafanhoto, de acordo com Quiroga, costuma “se esconder no inverno” e aparecer para se alimentar nas outras estações, como a primavera.

“Mas sem inverno definido, eles acabaram antecipando seus ciclos naturais, passando a se reproduzir também em quase todas as estações do ano.”

O ataque dos gafanhotos – chamados de langostas em espanhol – começou a ser observado em julho passado na província de Santiago del Estero e se espalhou para as vizinhas Tucumán e Catamarca, segundo a assessoria da entidade chamada Confederações Rurais Argentinas (CRA), com sede em Buenos Aires.

Vídeos caseiros com gafanhotos em massa sobrevoando plantações, feitos pelos produtores rurais, foram publicados nas redes sociais assim que o fenômeno ganhou força, entre no segundo semestre do ano passado.

Por causa do período de reprodução prolongado, diz Quiroga, a expectativa é de que em cerca de vinte dias os gafanhotos voltem a sobrevoar as plantações em grandes grupos, caso não sejam combatidos.

“Cada nuvem de gafanhotos pode ter até cinquenta milhões de insetos. Não queremos erradica-los, não é essa a proposta, mas combatê-los para que não cheguem a outras províncias”, disse.

O presidente da Sociedade Rural da província de Tucumán, Ignacio Lobo Viaña, disse que os gafanhotos “agem como um exército atacando pasto e cultivos como soja e milho”. Aos 56 anos, ele disse que “jamais viu nada parecido” em termos de ataque do inseto.

Quiroga, por sua vez, afirma que não existem cálculos sobre as perdas econômicas para o setor agrícola na região, mas que “o impacto é mais visual do que matemático”, já que os insetos atacam principalmente os pastos.

Segundo cálculos da CRA, cerca de 700 mil hectares estão sendo afetados pelo fenômeno, mas a maioria deles é coberta de pasto. Cerca de 180 mil hectares são ocupados por cultivos.

Na última quinta-feira, autoridades federais e provinciais anunciaram ações conjuntas para combater a praga.

“São brigadas especiais para combater o inseto, até porque focos do gafanhoto começaram a aparecer onde antes não existia no país, como ocorreu recentemente na província de Salta (no norte da Argentina) e em Córdoba (na região central do país), entre outros locais”, afirmou Quiroga.

Em entrevista à imprensa local, o presidente do Senasa, Jorge Dillon, disse que vai ser necessária uma ação conjunta do setor público e privado para “cuidar da produção nacional”.

A preocupação com a produção agrícola argentina também foi abordada pelo secretário de Agricultura do país, Ricardo Negri, que disse que o Ministério de Agroindústria, que faz parte da força tarefa de combate ao gafanhoto, assumiu o “compromisso de incrementar seus recursos e coordenar medidas que solucionem o tema (da praga do gafanhoto)”.

Após o anúncio das ações, a CRA divulgou comunicado dizendo que o “gafanhoto não espera” e alertando para a reprodução rápida do inseto.

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