Notibras

Seca vem aí, com torneiras mais secas e cerrado vulnerável

Maryna Lacerda

Prevenir incêndios florestais é fundamental diante da escassez hídrica que o Distrito Federal enfrenta. As chamas reduzem a oferta de água, tanto a destinada aos consumos humano e animal quanto a usada para a produção agrícola.

Por isso, não se deve atear fogo a lixo doméstico e a resíduos de podas de árvore, por exemplo, principais razões das queimadas no período de estiagem.

Os recursos hídricos ficam mais escassos com o fogo porque ele destrói a flora. “Com isso, reduz-se muito a superfície de absorção da água quando chove. A vegetação ajuda a amortecer a queda de água. Sem ela, a água vai direto para o rio”, explica o secretário do Meio Ambiente, André Lima.

Nesse processo, o solo passa pelo processo de erosão e fica menos propício à recomposição da cobertura vegetal, outra causa da redução da disponibilidade hídrica.

Com menos cobertura vegetal, a umidade relativa do ar também tende a diminuir. “Aumenta-se a evapotranspiração [a perda de água para a atmosfera causada pela evaporação da água no solo e pela transpiração das plantas]. No Cerrado, o balanço entre evapotranspiração e umidade tende a ser negativo na seca”, detalha Lima.

Esse fenômeno se intensifica nos Reservatórios como o do Descoberto e o de Santa Maria, que têm grandes superfícies de água. Nessas condições, a disponibilidade de água fica ainda mais escassa.

As chamas também rompem o ciclo reprodutivo do Cerrado por destruir polinizadores. Esses agentes são espécies de árvores com frutos que lançam sementes, aves que não conseguem fugir das labaredas e até mesmo ovos de pássaros. Com isso, a oferta genética diminui e se perde biodiversidade.

O Cerrado tem convivência com o fogo em razão de incêndios naturais, provocados por queda de raios, por exemplo. Dessa forma, o bioma desenvolveu características morfofisiológicas resistentes às chamas e à seca, como caules grossos e raízes profundas.

Apesar disso, a perda em biodiversidade tem sido significativa nos últimos anos. “O Cerrado é o bioma mais resistente ao fogo se comparado aos outros existentes no País. No entanto, temos tido incêndios com intensidade e frequência muito superiores à capacidade dele de se regenerar”, ressalta o secretário do Meio Ambiente.

O Distrito Federal registrou, em 2016, 6.887 ocorrências por queimadas. Foram 17.392 hectares consumidos pelo fogo no período.

Somente o Parque Nacional de Brasília, uma das principais unidades de conservação de proteção integral — e onde fica a Barragem de Santa Maria —, teve 2 mil hectares atingidos pelo fogo — cinco vezes a área do Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek.

Do total de registros de incêndios florestais em 2016, mais de 90% se refere a causas não-naturais. Eles são provocados por queima de lixo, de poda de árvores ou de pasto para manejo de solo, e por parcelamento irregular. “Se as chamas atingem uma área por dois, três anos seguidos, a vegetação é eliminada, e o solo fica descoberto, o que facilita a ocupação urbana irregular”, esclarece André Lima.

Além dos danos patrimoniais e da perda vegetal, as queimadas também oferecem risco à vida das pessoas, uma vez que as chamas podem ficar descontroladas e atingir casas.

Na seca de 2016, por exemplo, uma queimada na área de segurança do Complexo Penitenciário da Papuda ficou a poucos metros de atingir os prédios do Jardins Mangueiral, em São Sebastião.

Sair da versão mobile