Por meio de uma parceria com um grupo de pintores das comunidades do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, na Zona Sul do Rio, o Centro de Referência da Juventude (CRJ) Cantagalo abre as portas para jovens que buscam aprender técnicas de pintura e construir uma base para seguir profissionalmente a carreira de pintor. É no espaço, que é vinculado à Superintendência da Juventude, da Secretaria de Estado de Esporte, Lazer e Juventude (Seelje), que o coletivo Rio Alegre Arte ensina a arte. O curso teve início em janeiro e já conta com 24 alunos no total, distribuídos nos turnos da manhã e tarde, com aulas ministradas às quartas e sextas-feiras.
– Assim como o esporte e a educação, a arte também é uma porta para novas perspectivas. Ela não só impede que esses jovens sejam seduzidos por más influências, como também pode ser um incentivo ao trabalho autônomo que, por sua vez, se torna um novo meio de conseguir a própria renda – disse Werber Ramom, coordenador do CRJ Cantagalo.
A iniciativa de oferecer aulas no CRJ partiu do próprio coletivo, que já integrava movimentos artísticos e raciais na cidade e tinha a intenção de levar cultura para as crianças do Cantagalo e comunidades do entorno. O intuito não é somente torná-las artistas, mas também repassar valores, além de debater questões raciais e de gênero.
Para o professor Eduardo Matos, de 34 anos, a introdução à pintura é fundamental para trabalhar a concentração e facilitar outros tipos de aprendizado.
– Tem criança que chega sem a menor intimidade com o pincel e as cores. A gente nota muita diferença na forma como eles se comportam. Melhora a disciplina, coordenação, concentração. Isso ajuda a organizar os pensamentos e se tornar capaz de executar o que quiser. O que era algo difícil para eles, passa a se tornar prazeroso – disse, ao completar que o maior retorno que ele tem como professor é saber que está contribuindo com um futuro melhor para esses jovens.
Ao longo do curso, são passadas técnicas de desenho livre, pintura em tela, filmes, documentários, referências de trabalhos de outros artistas e também dos próprios professores, com o objetivo de estimular ainda mais a criatividade.
Os alunos Renato Júnior da Silva, de nove anos e Maria Eduarda Navegas, de 11, mostram satisfação por fazerem parte do projeto e terem feito tantos amigos no local. Ambos tomaram conhecimento do curso por intermédio da professora Fernanda da Silva, de 36 anos, que é moradora da comunidade e já conhecia os familiares de cada um.
– Quis fazer o curso porque sempre gostei muito de desenhar e pintar. Hoje em dia me sinto mais calma e paciente para desempenhar outras atividades, até mesmo em casa e na escola, não só no curso de pintura – contou a menina, que disse sonhar em ser médica, embora o curso tenha sido responsável por abrir sua cabeça e pensar na profissão de desenhista como uma segunda opção. Já Renato, se diz surpreso com o seu desempenho com o decorrer do tempo, pois no início tinha muita dificuldade e, hoje em dia, vê a pintura como uma atividade bem mais fácil.
– Agora eu posso ver que pintar não é algo tão difícil. Para mim foi uma questão de costume – concluiu Renato.