Após ter acesso a uma prévia dos índices de criminalidade referentes ao mês de janeiro no último domingo, o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, decidiu mudar o esquema de policiamento das ruas do Rio. A partir de agora, policiais de setores administrativos e que atuam nos batalhões Choque, em Grandes Eventos e nos Estádios serão utilizados no patrulhamento. A medida foi anunciada, na manhã desta terça-feira, no Palácio Guanabara, em Laranjeiras, na Zona Sul.
A utilização de agentes de setores administrativos no policiamento de rua é uma medida inédita. Segundo o secretário, os policiais farão patrulhamento em um sistema intercalado, às terças e quintas ou segundas e quartas e também terão que cumprir uma cota de policiamento.
“A Polícia Civil vai ter um foco muito grande na receptação, seja receptação de carro roubado, seja receptação de ouro, de celulares ou de qualquer equipamento que tenha sido furtado”, afirmou Beltrame, acrescentando que “essas medidas foram tomadas ontem já de manhã”, após ele ter acesso aos índices do Instituto de Segurança Pública referentes ao mês de fevereiro e a uma prospecção para o mês de março, índices que, segundo ele, não são bons”.
De acordo com o secretário, mesmo com um aumento substancial de prisões, continua-se percebendo um aumento da violência. “Mas é importante que se diga que a violência, ela não se combate só com a polícia”, declarou Beltrame, ressaltando que está “tomando medidas extremas”.
“A polícia está praticamente no seu limite, nós não temos mais condições de chamar policiais pra cobrirem as ruas do Rio de Janeiro. Mas são também necessárias outras medidas, entendo que de outras instituições no sentido de trazer o controle da violência”, acrescentou.
O secretário ainda falou que a polícia está fazendo um retrabalho, com relação à apreensão de menores no Centro do Rio e dividiu a responsabilidade com outras instâncias. “Por exemplo, nós tivemos em janeiro e em fevereiro, 89 menores apreendidos ali na Rio Branco, 72% desses jovens foram presos novamente no mesmo local, então isso fez a polícia trabalhar 72% a mais. Em relação às audiências de custódia nós já temos delegados e delegacias que já estão fazendo duas audiências de custódia no mesmo mês”, explicou.
“A polícia tem que fazer o seu trabalho, tem que ser criticada, tem que ser monitorada, as pessoas têm que cobrar policiamento, mas a polícia não pode ficar sozinha nessa história, porque a polícia está fazendo um retrabalho muito grande, principalmente na questão dos menores e agora as audiências de custódia, que eu sei que elas partem do princípio da inocência, mas uma coisa pra nós está muito clara: prender e punir não está fazendo com que as pessoas desistam, se desvirtuem do caminho criminal para um outro caminho”, avaliou Beltrame.
Movimento avalia decisão de Beltrame: ‘É positivo, mas ainda não é tudo’
Presidente do movimento O Rio pela Paz, Rommel Cardozo, afirmou que “colocar um maior efetivo de PMs nas ruas, com a intenção de passar a sensação de segurança para a sociedade e ao mesmo tempo inibir a ação de assaltantes e criminosos é um passo importante, mas ainda não é a solução.”
“Tirar o efetivo acostumado às funções burocráticas e jogá-los nas ruas, pode representar um enorme risco para as operações, já que não contam com a experiência do dia a dia daqueles que combatem nas vielas e becos da cidade”, afirmou Cardozo.
“Precisamos apostar no aumento de ações educativas nas regiões-origem dos infratores, prevenindo que eles se tornem um problema para a segurança pública. Vivemos numa cidade grande, com diversos problemas sociais, onde traficantes arregimentam e acolhem muito mais pessoas do que o Estado. Enquanto houver esse abismo, haverá a necessidade de um efetivo cada vez maior de PMs”, finalizou Rommel.