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Sede por dinheiro público prova que politicagem é o problema da nossa política

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Arimathéia Martins - Foto Lula Marques/ABr

Como qualquer garota ou garoto de programa, o Congresso Nacional não dá nada de graça. Caminhamos para o quarto mês do ano. Até essa quinta-feira (20), o país estava sem orçamento. Três meses após o início da discussão, deputados e senadores finalmente aprovaram a Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2025. O “programa” foi caro. A aparente trégua entre Legislativo e Executivo ocorreu graças a barganha que rendeu para suas excelências R$ 50,4 bilhões para emendas parlamentares. Ou seja, a bufunfa está garantida, mas permanece nos cofres da União por conta do imbróglio das emendas com o Supremo Tribunal Federal.

O segundo round ainda está por vir. Antes mesmo de qualquer negociação política, os congressistas já enviaram um recado curto e grosso para o Palácio do Planalto. Ou liberam logo os valores das emendas inscritas para este ano ou ninguém vota a proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. A exigência inicial é de pelo menos R$ 6 bilhões. Emparedamento ou chantagem? As duas coisas, é claro. Sabedores de que R$ 50,4 bilhões garantem uma farra eleitoral e tanto nos estados e municípios, os 584 senhores de gravata e de rabo preso tiram de letra.

Como se imaginam em plenários de fundo de quintal e bem longe do povo, eles fazem isso com a maior cara de pau. Embora saibam que a última palavra é do Supremo, mais precisamente do ministro Flávio Dino, a decisão de emparedar o lado mais fraco, que é o governo, visa a tirar o STF da zona de conforto e transferir para eles (os parlamentares) o bônus bilionário do Orçamento. Recado pra lá, recado pra cá, continua valendo o de Flávio Dino: a liberação do pirão depende do compromisso de acompanhamento e da transparência no uso dos recursos. Sem isso, nada feito.

Enquanto o enrosco não se transforma em clara ameaça para o governo federal, milhões de brasileiros vivem abaixo da linha de pobreza. Azar o deles, dirão os chamados homens públicos. Os de ontem, os de hoje e certamente os de amanhã são os mesmos que um dia inspiraram Chico Anysio a criar o personagem Justo Veríssimo. Para quem não se lembra, o fictício deputado tinha como bordão o desejo de que o povo se explodisse. Chico sempre teve razão. Infelizmente, a política deixou de ser uma honrosa representação e descambou para uma marginal profissão.

Até agora, só as excelências sabem onde vão parar os bilhões das emendas parlamentares. Além deles, certamente muitos dos ditos patriotas também lucram com a falta de transparência. Afinal, prostituição política no Brasil virou clichê. Todos estão cientes de que nossa política é mesmo um jogo sujo de interesses. Partindo desse hediondo pressuposto, muitos veem empecilho algum em usufruir privadamente do dinheiro público. Portanto, está provado que o mal na política brasileira é a politicagem. Em outras palavras, a política é limpa. Suja são as pessoas que a usam em benefício próprio. A sede pelo dinheiro público que o diga.

Por isso, nunca é demais reafirmar que o Brasil não precisa combater a política ou os políticos. O que precisamos – e com urgência – é combater a politicagem, os politiqueiros e seus descendentes até a 35ª. geração. Transformemos em mantra a tese de que não pode haver mudança política na sociedade em que a voz da necessidade é silenciada pelo dinheiro. Como a política no Brasil só se movimenta, mas não muda, a pressa é por uma política antipoliticagem. Andaremos para frente no dia em que não houver dúvida de que na política só existe união quando os políticos estão em campanha ou compactuando. No momento, a campanha é pela pactuação das emendas. Sem elas na conta dos engravatados, o Brasil que se dane.

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