Recentemente, foi notícia em quase todo o mundo a proposta votada no Parlamento Europeu de dividir o Google em dois, separando o buscador dos demais negócios da empresa.
A novidade me deixou muito contente, já que há mais de cinco anos estou preocupado com o perigo potencial que o Google representa. Acredito que, se o Google continuar sendo uma única empresa, teremos que apelar para a sétima cavalaria para assumir o controle e deter seus pés.
Deixem-me explicar minha reflexão: tenho ressaltado cada vez mais minha preocupação com o Google, mas estou preocupado com coisas diferentes das que preocupam a Comissão Europeia.
Resumindo, eles não querem que a empresa fique com o mercado europeu de conteúdos digitais, um mercado de aproximadamente € 200 milhões. Enquanto o que eu não quero é que o Google fique com o planeta inteiro. E não é a primeira vez que escrevo alertando para essa possibilidade.
Sempre gostei do Google, tive afinidade com ele desde 2001, quando comecei a usar o buscador por conselho de Al Gore. Na Campus Party daquele ano, Al Gore falou-nos de quão bem funcionava o Google, e todos os campuseiros espanhóis mudaram rapidamente de Yahoo para Google.
Por mais que tenha afinidade com eles, no entanto, não consigo parar de me preocupar com o que está acontecendo. Se antigamente estávamos extremamente preocupados com o que a Microsoft fazia e sabia sobre nós, o que acontecia naquele tempo virou uma brincadeira de criança se comparado ao que ocorre hoje.
O Google sabe não só o que você busca através do seu navegador, mas também seus comportamentos de compra, onde você se move “fisicamente”, com quem você interage, e desde que existe a ferramenta Analytics, sabe até mais do que você sobre os visitantes do teu próprio site. O Google sabe se uma página, um blog ou um app são bem sucedidos antes mesmo do seu criador.
Em minha visão, a questão não é se o Google é bom ou ruim, se faz o bem ou o mal, mas sim que não se pode permitir que uma empresa tenha como missão “deter toda a informação do planeta”.
Muito menos permitir que possua um sucesso, de tal magnitude, que atualmente detenha em seu poder toda essa informação e conhecimento, e tenha se dedicado a fazer negócios com ele. Temos que deter o Google, não por trabalhar mal ou fazer o mal, mas por causa do que seu sucesso representa.
Tente imaginar o poder de uma empresa que não só possui todas estas informações, mas que também pode fazer negócios com elas. Não estou falando sobre gerar tráfego e vender publicidade ou serviços, estou falando, por exemplo, que alguém pode inventar algo e o Google será o primeiro a comprar essa invenção, porque saberá de sua existência antes de todos.
Se isso for repetido uma e outra vez, no final eles serão os donos de tudo. E posso garantir, eles o serão se a empresa não for dividida em dois: uma deve ter o motor de busca, como uma ferramenta de serviço público da humanidade, e com a outra, podem fazer o que quiserem, mas sem informação privilegiada.
É de conhecimento geral da humanidade que as informações que o Google vem acumulando, através de suas ferramentas, não devem ser usadas para ter vantagem nos negócios.
Se esse processo não for detido, o caminho nos conduzirá a um futuro feio, dominado por uma empresa poderosa. Por isso, peço que o Google seja separado em pedaços, sim, e agora. Isso deve ser feito em benefício de toda a humanidade.
Paco Ragageles