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Seitas em forma de governo e a fogueira da vaidade

Iniciada pela Igreja Católica no século 12, a Santa Inquisição tinha por objetivo condenar e punir as pessoas que tinham desvios nas normas de conduta, os denominados hereges. Embora dominasse a Europa e boa parte do mundo, já naquela época o catolicismo estava preocupado com o crescimento de outras seitas. Em seu auge, nos séculos 16 e 17, além de torturas e perseguições, o horror criado pelos inquisidores teria gerado entre 100 mil e 300 mil mortes, entre homens, mulheres e crianças. A literatura fala em 30 milhões de mortos. Impossível mensurar, mas possível imaginar a barbárie protagonizada para esconder, além de muitas outras coisas, um emaranhado de corrupção.

Sem entrar no mérito, o holocausto católico foi copiado por Napoleão Bonaparte e Adolf Hitler, este principal culpado pela morte de cerca de seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, considerado o maior genocídio do século 20. Hitler gerou Benito Mussolini e, juntos, ambos “pariram” Vladimir Putin, cujo prazer, além do poder eterno, é fazer sofrer o semelhante, principalmente se esse é um opositor ou, por razões diversas, atravessa seu caminho. A exemplo de Hitler e Mussolini, desde os tempos de agente da KGB, a polícia secreta da antiga União Soviética, o “rei” Putin assina o óbito de algumas centenas de milhares de seres humanos. Apesar das contrainformações, o número de russos e ucranianos mortos no atual conflito se aproxima dos 7 mil.

Provavelmente a fúria de Putin também seja de responsabilidade dos Estados Unidos, Alemanha e boa parte da Europa. Basta uma rápida pesquisa para entendermos que o ataque à Ucrânia seja uma resposta a antigas provocações e cutucões com vara curta do “Ocidente”, entre eles a forçação de barra para inclusão dos ucranianos na Otan. As lideranças da entidade sabem muito bem que não poderiam intervir militarmente na guerra, muito menos atacar Moscou, que tem ogivas atômicas capazes de atingir as principais capitais europeias em minutos. Portanto, em tese a culpa é de todos, inclusive nossa que ainda elegemos pessoas despreparadas para dividir comandos.

Por ora, inadmissível é entender como normal a matança de inocentes ter como justificativa uma causa geopolítica criada exclusivamente por déspotas, sejam eles norte-americanos, russos, alemães, franceses, brasileiros ou de qualquer outra nacionalidade. Duvido que a guerra fabricada nos bastidores do poder alcance as chamadas potências ou seus “fabricantes”, os líderes forjados na insana vaidade. O mais lamentável é que Vladimir Putin e similares já fizeram escola no Brasil. Torçamos para que os ensinamentos fiquem restritos ao cercadinho apinhado de fanáticos por um novo sacrifício generalizado.

Guardadas as devidas proporções e sem a necessidade de personalizar culpas, não há diferença entre esses episódios macabros e a negativa pública, bizarra, medonha e recorrente do mal da Covid-19. Passados dois anos de seu surgimento, a doença já produziu milhões de óbitos, dos quais 953,1 mil nos Estados Unidos e mais de 650 mil no Brasil, os dois países que, publicamente, fizeram pouco caso da letalidade do vírus. Em resumo, qual a diferença das práticas mortíferas do século 12 para nossos dias?

Sinceramente, nenhuma. Então, seja por lá ou seja por aqui, é chegada a hora de criamos coragem para evitarmos novas mortes, torturas e perseguições. Como? Expurgando de nosso convívio seitas em forma de governo e combater a heresia, a blasfêmia e costumes considerados desviantes da fogueira da vaidade em que se enroscam a maioria dos governantes ao redor do mundo. Para nossa sorte, a batata de alguns começa a ser assada em fogo brando.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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