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Selton Mello dá vida e voz a Lino, nova animação nacional
Publicado
emLuiz Carlos Merten
Por mais distraído que possa ser, você com certeza percebeu que está havendo uma overdose de Selton Mello neste ano. Ele foi visto como ator em Sounbdtrack, é ator e diretor de O Filme de Minha Vida, que segue em cartaz, e a partir desta quinta, 7, ocupa mais de 400 salas – exatamente 439 – de todo o Brasil, fornecendo a voz ao personagem título de Lino – Uma Aventura de Sete Vidas.
A animação de Rafael Ribas chega ao mercado num momento especial. Neste ano, comemora-se o centenário da animação brasileira. “Esses 100 anos se referem a um filme mítico, realizado em 1917 e do qual sobraram apenas frames. O Kaiser existe no imaginário de algumas pessoas, mas instituiu essa data, e é o que se comemora.”
Rafael prefere outra comemoração mais palpável – em agosto, completaram-se 51 anos da empresa fundada por seu pai, Walbercy Ribas, pioneiro da animação no País. 51 anos! “Meu pai foi um guerreiro da animação e largou uma carreira de sucesso na publicidade para realizar seu sonho. Eu fui muito marcado por ele, mas nunca me vi como um pioneiro. A animação no Brasil ainda é obra de poucos, mas não tenho esse sentimento heróico. Gosto de fazer as coisas. Tenho esse lado mais prático, e só lamento que as coisas sejam tão difíceis.” Rafael começou a conversar com Selton Mello sobre o projeto de Lino em 2010. Gravaram um teaser, que ajudou a vender a ideia à empresa Fox. Mas, na verdade, Lino surgiu em 2009, logo depois que Rafael lançou Grilo Feliz 2.
“O Grilo foi lançado com 110 cópias e fez 370 mil espectadores. Para mim foi um sucesso. Não sou louco de querer comparar nossas animações com as da Pixar e da Disney, que fazem milhões de espectadores. Eles (os norte-americanos) têm uma indústria da animação.
Envolve milhares de artistas e técnicos, cada filme custa centenas de milhões. Lino teve um orçamento era de R$ 8 milhões, mas fizemos o filme com R$ 6,5 milhões. Foi uma equipe pequena, num total de 47 pessoas, que já estão dispersas. Não vou negar que gostaria de fazer o Lino 2 e até que tenho algumas ideias, mas vai depender de muita coisa. A consequência é que há sempre um ‘gap’ de cinco ou seis anos entre um projeto e outro, e as pessoas se dispersam. Temos artistas, desenhistas, animadores muito talentosos. Sem mercado, vão para o mundo. Tem gente que fez o Lino e está nos EUA, no Canadá. Se houver o Lino 2, vamos ter de formar nova equipe, recomeçar do zero.”
O diretor diz isso sem tristeza – “Faz parte”. Diz que fez Lino para o mercado, e com um público alvo em mente, ‘a criançada’. “Nesse sentido, a experiência está sendo muito rica, porque já ocorreram várias sessões especiais e de pré-estreias, e o retorno tem sido bacana. Hoje em dia tem as redes sociais e as pessoas postam, mostram vídeos de crianças vidradas. Vi um vídeo que me emocionou, um menino de 3 anos contando o filme para o avô. Uma mãe jovem sentou-se do meu lado com a filha. A menina, no colo, começou inquieta, mas quando, na trama, a fantasia cola no Lino e ele vira gato, a menininha não desgrudou mais o olho. O filme dialoga com esse público bem pequeno. Era o que queria ”
Selton Mello tem uma longa experiência como dublador. Já dublou A Roupa Nova do Imperador e astros como Tom Cruise, River Phoenix e Ralph Macchio. Aqui é diferente. Faz a voz original. As gravações foram feitas há uns três anos. “Acho a história bonita e o Lino um personagem cativante, com quem a gente pode se identificar.” Tem algo de O Palhaço, o filme do próprio Selton. “Não havia racionalizado isso, mas o palhaço quer fugir à tradição familiar, não se acha bom. O Lino também se sente prisioneiro daquela máscara de gato, animando festas infantis. Mas tanto um como o outro descobrem as coisas boas da vida, a criatividade. Lino descobre o amor, ganha uma família. Acho aquela coisa da adoção linda”, diz Selton. Ele está feliz. O Filme de Minha Vida bateu 300 mil espectadores, e é um número bom, num ano difícil para o cinema brasileiro. Rafael Ribas não quer pensar nos números. “Com 500 mil espectadores eu já ia estourar champanhe.” O filme tem um visual bonito, é cuidado. Tem suas limitações. “O marketing da distribuidora promete um Lino fofinho, mas ele passa o filme ferrado.” A sorte está lançada. Lino tem charme. Brasilidade? “Está no fazer. A história é de aceitação, superação. É universal.’