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Sem água, saúde, segurança… É tudo culpa do Rollemberg

Foto: Tony Winston/Divulgação - Agênia Brasília

Kleber Ferriche

No dia primeiro de janeiro de 2015, Rodrigo Rollemberg lavou a alma ao tomar posse como governador do Distrito Federal. Como em qualquer conto de fadas, havia um culpado pela sua vitória: Agnelo Queiroz. Hoje o próprio gerente da Capital não pode lavar ao menos o rosto todos os dias. Nem a população. Não há água suficiente nas torneiras e surge outro culpado: o eleitor. Foram os brasilienses que escolheram um novo governador que tomou posse sem ao menos ter um plano de governo previamente definido.

Naquela época São Paulo já havia dado uma lição sobre o tema, mas só após dois anos e duas estiagens depois, em março de 2017, foi realizada uma audiência pública para identificar a culpada: encontraram a chuva.

Vivemos um estado de transferência de responsabilidades. Até o padre, coitado, ficou sem água para benzer o Buriti. E especialmente o governador, que promove uma caça às bruxas que esvaziaram os reservatórios. E as nuvens.

Pelas pesquisas, a maioria da população encontrou o verdadeiro culpado pelas torneiras vazias: ele mesmo, Rodrigo Rollemberg. Em 2015, a Caesb deveria ter investido 800 milhões de reais na melhoria do sistema, mas não caiu uma gota de recursos na modernização do abastecimento. A culpa é do Rollemberg.

O Distrito Federal depende de cinco sistemas produtores que são o Descoberto, Torto, Santa Maria, Sobradinho/Planaltina e São Sebastião. Na ocasião da audiência pública – uma modalidade de reunião entre interessados em consagrar uma verdade qualquer para justificar uma incompetência qualquer – o governador afirmou: “É muito importante essa audiência pública para trocar ideias de como garantir o uso mais eficiente da água por toda a sociedade e como garantir um volume maior de água nos nossos reservatórios, nas nascentes”.

Dois anos atrasado, o GDF inicia algumas providências e obras na captação de Corumbá IV, no subsistema Bananal, no Lago Paranoá e no Córrego Crispim do Gama. Se ainda assim houver racionamento, a culpa é do Rollemberg.

Desde a crise em São Paulo, ano do El Niño, o Atlas do Abastecimento Nacional, editado pela ANA – Agência Nacional de Águas, já apontava o Distrito Federal como uma região de crescimento urbano desordenado, que teria grande impacto sobre o fornecimento de água pela Caesb.

Com 500 condomínios irregulares assentados sobre nascentes, de matas ciliares arrasadas, da desocupação, destruição e abandono da orla do Lago Paranoá, antes preservada, para gerar fatos midiáticos sem ter um único projeto básico de reocupação, não é possível culpar a população por ter sede e necessidade de lavar as partes. A culpa é do Rollemberg.

O Palácio do Buriti foi alertado pela imprensa, há uma semana, que o seu jardineiro desperdiçava água potável diariamente para regar o cenário onde vive o culpado. Um absurdo. O Novo Gama, em Goiás, cidade do Entorno, também recebe água da Caesb, agravando a crise. Muitas famílias passam até uma semana com suas caixas d´água vazias na região de Sobradinho. Sobradinho não existia quando Rollemberg tomou posse?

Hoje, com o alargamento do período de estiagem, a população torce para que o desinteresse do governador sobre as necessidades básicas do Distrito Federal não seja maior. Com os índices negativos recordes de desaprovação, sua gestão no ano derradeiro estará sob suspeição.

Muitos acreditam que o foco agora será o pleito de 2018, quando ele pretende a reeleição. Pode ser, por outro lado, bom motivo para um melhor empenho administrativo. Caso encontre dificuldade para ser um pop star, não adianta promover reuniões, plenárias e audiências públicas.

Daqui pra frente, tudo será culpa do Rollemberg.

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