O delegado havia programado uma operação no centro. Todos estavam certos de que fariam uma limpa naqueles becos fétidos. E lá estava o Santana, com umas batatinhas fritas em um saquinho, entediado por mais esse trabalho noturno. Ele pensava apenas no grande sofá, puído pelos inúmeros anos de preguiça, na sala em frente à televisão.
– Pessoal, hoje vamos acabar de uma vez por todas com a bandidagem!
Todos escutavam as palavras do delegado. Alguns mais atentos, outros nem tanto e, por fim, o Santana fuçava a última batatinha no fundo do saquinho. Ele apenas pensava que deveria ter comprado mais uma porção de batatinhas, pois aquelas não preencheram nem o buraco do dente. Ah, Santana, como você é guloso!
As viaturas saíram animadas da delegacia. Algumas regras de trânsito foram deixadas de lado. Ah, mas polícia pode! Mesmo que isso leve certo perigo à população. Mas o que essas criaturas estão fazendo a essa hora na rua? Cidadão de bem fica em casa! Toque de recolher! De volta para o curral!
Lá pelas tantas, após horas sem nenhum crime sequer desmantelado pela tropa antes eufórica, o delegado resolveu tentar uma derradeira busca em um beco escuro. E lá foram todos atrás do chefe. Passaram por uma lixeira enorme, de onde sentiram um cheiro horrível de podre. Continuaram e, mais adiante, se depararam com alguns moribundos, cercados por baratas, que tentavam dormir.
Todos os policiais, armas em punho, se preparavam para dar o bote naquela trupe, segundo eles, de altíssima periculosidade. No entanto, um disparo os despertou para a realidade. O Santana, que ainda estava ao lado da enorme lixeira, havia dado um tiro. Ele tentou acertar um rato, que correu assustado, mas, graças aos deuses do esgoto, ileso. Enquanto o delegado encerrava ali mesmo a operação, o roedor foi contar para os companheiros mais essa atrapalhada do Santana.