Desde Dom João VI, quando nasci, ouço falar que todo homem que se sublima, isto é, que se acha super-herói, às vezes até o chamado rei da cocada preta, um dia tropeça nas próprias pernas ou derrapa na merda que espalhou por onde passou. Na dúvida, desconfie deles ou se faça de mouco quando “convidado” para uma nova manifestação contra os ministros do Supremo Tribunal. Já vi e convivi com muitos, a maioria negacionista, inclusive de sua própria existência. Uns, além de querer tomar posse da Europa, imaginavam um mundo só de arianos. Escondido como um rato no seu bunker, um desses acabou se suicidando como covarde. Levou para o cemitério suas vinganças e uma súcia de bobalhões iguais a ele.
Sádicos, misóginos, homofóbicos, racistas, xenófobos, populistas e duvidosamente másculos, outros morreram de câncer ou atearam fogo ao reino. Acabaram secos ou tosquiados da cabeça aos pés. Partiram, deixando para a humanidade a dúvida sobre se eram ou não do ramo. Embora do tipo alfas, boa parte dos que ficaram manteve o perfil, acrescido da belicosidade gratuita, atroz, mas, felizmente, temporária. Vladimir Putin ataca a Ucrânia, que não tem mais como se defender, mas morre de medo do poderio nuclear dos europeus. Provavelmente a reencarnação de Adolf Hitler, Donald Trump se elegeu achando que tomaria conta do planeta com duas ou três canetadas. Achou, mas parece que já desachou.
Para isso convocou um escudeiro pra lá de astuto e pra cá de problemático. Apoiado em seus 14 filhos, Elon Musk se aboletou na Casa Branca se autodeclarando o dono do salão vermelho, do quarto cor de rosa e da sala azul anil. Bastaram alguns trinta e poucos dias para que ambos percebessem que nem todo buraco de formiga é um fiofó. Amargando uma série de derrotas políticas e judiciais, o presidente republicano teve de se render às normas constitucionais. Quanto a Musk, mesmo tendo entrado de costas, já bateu de frente com meio governo. O último conflito foi com Marco Rubio, o poderoso secretário de Estado dos Estados Unidos. Não bastassem as rusgas, o bilionário não tem conseguido tirar os saltos da terra firme.
Depois de colaborar com o insucesso do submarino Titanic, desparecido com cinco tripulantes nas águas do Pacífico, Musk viu da terra a explosão de duas espaçonaves do modelo Starships, produzidas pela SpaceX. As geringonças explodiram antes mesmo do primeiro quilômetro no ar. Ou seja, nem tudo que reluz para os poderosos é ouro. Não tenho bola de cristal, mas tudo indica que daqui pra frente é só pra trás. Provavelmente o que irá pelos ares será a casa da qual se acham proprietários perpétuos. Apesar dos contratempos pelo caminho, os anti-heróis permanecem dando as cartas. No Brasil, há os que morrem de rir e quase gozam com as bravatas e os gracejos de déspotas espalhados pelo mundo.
Nada, porém, mais nefasto na história do que minimizar o prazer desvairado dos estagiários da tirania. Como víboras no cio, alguns deram e dão a vida por dinheiro. Não levaram ou levarão nada para o túmulo, nem mesmo as chaves dos cofres onde guardavam suas tristes riquezas. Muitos fazem qualquer coisa pelo poder, inclusive pregar a paz usando de grosserias, insultos, ameaças e agressões àqueles que ousarem atravessar seus caminhos. Como artistas sem palco, comumente desviam a atenção dos problemas que não conseguem resolver com expectativas que nunca se transformam em realidade. Normalmente são eleitos, governam e somem cercados de suspeitas.
Celeiro de tipos como esses, o Brasil já teve o pai dos pobres, os brucutus, o caboclinho, o caçador de marajás, o imorrível, a sonhadora sem sonhos, o acima de qualquer suspeita, o que se autointitula o melhor presidente da história do país e o “imbrochável”, aquele que avalia as mulheres petistas “feias e incomíveis” e que, calado, é mais do que um poeta. Sem personalizar, mas já personalizando, é melhor manter a boca fechada e parecer estúpido do que abri-la e remover a dúvida. Ele faz muito pior. Tirano em estágio probatório, o fulano acha que convocando “suas massas” amedrontará seus julgadores e convencerá o país de que tudo que ele fez foi realmente em nome de Deus. É verdade que os juízes não são anjos. No entanto, para nossa sorte eles também não são cagões como os “patriotas imaginam”. Em breve o Brasil mostrará ao provocador que tentou governar o país sentado em um jet ski com quantos paus se faz uma canoa.
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Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras