Democracia do pensamento
Sem o susto da 3ª via, futuro presidente patina sem medo
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emA um ano do pleito presidencial de 2022, os extremos representados por Jair Bolsonaro à direita e Luiz Inácio à esquerda continuam polarizando e liderando todas as pesquisas de intenção de votos. Isso quer dizer que a eleição está decidida? Obviamente que não. Entretanto, a realidade brasileira não está distante disso, considerando a divisão daqueles que insistem em apostar fichas somente na rejeição aos líderes do cercadinho e do PT. Corrente surgida na ideologia socialdemocrata e promovida por alguns partidários do liberalismo social, a chamada terceira via tenta reconciliar posicionamentos político-econômicos tradicionalmente associados à direita e à esquerda.
Longe de ser uma consolidada alternativa à bifurcação extremista, o segmento usa o discurso de alternativa do meio termo às propostas do liberalismo econômico e do socialismo. É o caminho perfeito para a alternância, para o revezamento, para a mutação. Talvez seja a melhor solução para o singular momento do país. Avaliando passado e presente da política nacional, a terceira via pode ser a grande opção eleitoral do ano que vem. Pode, desde que realmente queira ser. Repetir os erros da esquerda, insistindo na fragmentação de potenciais postulantes é suicídio anunciado.
A vaidade de uns e a certeza da força de outros têm gerado uma fantástica pulverização de nomes, o que fatalmente dificultará a construção de uma candidatura única, consequentemente forte para enfrentar o poderio e a militância do eleitorado opositor. A “variedade” entre os tertius afasta a possibilidade de que algum deles mude o destino do pleito. Ou seja, ou repensam ou perdem a eleição. Por enquanto, o grupo que se mostra como opção a Lula e a Bolsonaro ganha atenção do eleitor, mas ainda bate cabeça atrás de apoio popular. Embora algumas pesquisas comprovem que o eleitorado nem/nem (“nem Bolsonaro, nem Lula”) já beira os 30%, percentual que garantiria espaço para alguém da terceira via no segundo turno, falta mostrar ao eleitor que o escolhido terá apoio dos demais.
Perderão todos se a decisão final for mais de um na mesma contenda. Estão postos os nomes dos governadores João Dória, Eduardo Leite e Arthur Virgílio, do PSDB, de Ciro Gomes (PDT), do ex-juiz Sérgio Moro, dos senadores Simone Tebet (MDB), Rodrigo Pacheco (DEM) e Alessandro Vieira (Cidadania), do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM), do apresentador José Luiz Datena (PSL) e do cientista político Luiz Felipe D’Ávila (Novo). Até agora, difícil saber em quem apostar. As vantagens deles sobre o atual e o ex-presidente são a novidade e a aparente falta dos vícios políticos que combatemos faz décadas.
Na disputa das prévias do PSDB para definir o candidato tucano ao Planalto, o governador gaúcho Eduardo Leite chegou a dizer que a alta rejeição a Bolsonaro e a Lula ajudaria o nome alternativo a avançar à rodada final das eleições de 2022. Errou feio, principalmente porque a opção caseira – o governador paulista João Dória – não decola, assim como ainda não conseguiu sair da toca o ex-juiz Sérgio Moro. Isso quer dizer que, com vícios ou não, provavelmente teremos de conviver com o que já convivemos. Essa é a democracia do pensamento.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978