Cíntia Cruz
Alimentação precária, falta de médicos, de produtos de higiene pessoal e atraso no pagamento de funcionários. Este é o cenário no Centro Bom Samaritano para a Terceira Idade, no Califórnia, em Nova Iguaçu. Aberto há cinco anos para idosos em risco social ou vulnerabilidade, a instituição é alvo de denúncias de idosos e de profissionais.
Apesar da memória falha, a aposentada Cleia Oliveira, de 80 anos, uma das residentes, não esquece os documentos que foram retirados dela:
— Desde que entrei aqui, só recebi meu pagamento duas vezes. Ela está com meus documentos e com meu cartão — reclamou, baixinho, pela grade do portão, enquanto mostrava o joelho direito inchado: — O médico vem, mas demora. Quando e chega, ninguém vai no meu quarto avisar.
Segundo Cleia, quem está com os seus documentos é a administradora do abrigo, Cátia Nunes. A informação foi confirmada por funcionários, que dizem não receber salários desde dezembro.
— Não tive nem 13º. Ela (Cátia) diz que o governo estadual (responsável pelos recursos)não paga e por isso não está repassando. Mas ela também recebe os benefícios dos idosos. O certo seria reter só 70% do pagamento deles. Se o governo paga por eles ali, ela não deveria reter o cartão de ninguém — frisou uma funcionária.
A comida dos residentes também deixa a desejar, afirmam funcionários. Há pelo menos sete meses, eles almoçam e jantam ovos cozidos:
— Não tem fruta ou legume nas refeições. O café da manhã é pão sem manteiga, café e leite.
O material de higiene pessoal vem de doações e, muitas vezes, o sabonete é dividido para durar mais.
— O estado paga R$ 2.400 por idoso, mas falta tudo. O que salva essa gente são as doações de amigos e de igrejas. Acho uma injustiça trabalhar o mês todo e ter que pedir dinheiro emprestado para pagar as contas — reclamou outro funcionário.
Crise atrasa recursos, afirma governo
A Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos informou que o abrigo tem um cofinanciamento do governo para o atendimento aos idosos de R$ 240.415,11. O pagamento, diz o órgão, atrasou por causa da crise econômica que afeta o estado.
Já a direção do abrigo informou que o cardápio é elaborado por uma nutricionista, que intercala os tipos de proteínas. Em relação à falta de médicos, dois profissionais atendem lá semanalmente. O abrigo acrescenta que a maioria dos idosos não tem documentos por terem sido moradores de rua. Os que têm seus benefícios administram os próprios recursos pessoalmente.
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