Famoso por ser o piloto mais simpático do grid atual da Fórmula 1, Daniel Ricciardo teve poucos motivos para sorrir neste ano. Sofreu com problemas mecânicos nas pistas, que lhe renderam oito abandonos em 19 provas já disputadas, foi superado com frequência em treinos e corridas pelo companheiro de Red Bull, Max Verstappen, e tomou a decisão de deixar o time austríaco para defender em 2019 a Renault, considerada por muitos como inferior a sua atual equipe.
Nada disso, porém, tira o bom humor do australiano, que tenta diversificar seus interesses para aliviar a “pressão mental” sofrida ao longo do ano. “Foi a minha temporada mais difícil na F-1”, admitiu o piloto de 29 anos, em entrevista exclusiva ao Estado. “Foi difícil mais pelo lado mental. Eu cometi erros, mas a maior parte dos problemas veio da parte mecânica do carro. Eu preferiria que fossem erros meus porque poderia aprender com eles. Quando as falhas não são suas, é mais duro mentalmente porque você precisa continuar a fazer as coisas do mesmo jeito.”
Na avaliação de Ricciardo, a sua oitava temporada na F-1 foi “maluca”. “Comecei bem o campeonato, com duas vitórias em seis corridas. Vencer em Mônaco foi muito importante para a minha carreira. Mas, desde então, não consegui mais subir ao pódio. Foi muito azar. É um ano muito desafiador”, afirmou.
Mas ele se mantém otimista mesmo vindo de dois abandonos seguidos, nos Estados Unidos e no México. “Com certeza, fiquei irritado quando erros aconteceram. Mas normalmente eu percebo horas depois, ou na manhã seguida, que a vida é muito boa. Apenas tento ser grato a tudo”, diz o piloto, que admitiu ter exercitado bastante a paciência neste ano. “Eu tenho muita paciência, às vezes até demais”, afirmou, entre risos.
E o australiano não disfarça o clima de despedida na Red Bull, que ainda defenderá no GP do Brasil, em Interlagos, neste fim de semana, e em Abu Dabi, no fim do mês. “Vou levar comigo muitas boas memórias. Aprendi muito com a equipe, como as coisas funcionam, e também o lado dos negócios e do marketing, o engajamento com o público”, disse Ricciardo, justamente durante um dos eventos de marketing do time austríaco, em São Paulo.
Em quadra localizada numa praça na zona oeste da capital, ele e Verstappen se divertiram batendo bola na companhia de duas jogadoras do Santos, Ketlen e Kelly, e dois especialistas em futebol freestyle. Ricciardo mostrou menos intimidade com a bola do que o piloto holandês. “Gosto mais de jogar futebol no videogame, às vezes com o Felipe Massa”, diz, referindo-se ao seu vizinho em Montecarlo. “Eu o venci da última vez, ele não ficou muito feliz”, gargalhou.
Sem maior sucesso no futebol, o australiano se diz mais fã de tênis e de MMA. “Sou obcecado por UFC”, revelou Ricciardo, ao apontar um brasileiro como um dos seus lutadores favoritos. “É o Paulo Costa [mais conhecido como Paulo Borrachinha]. Ele é muito bom, está invicto até agora.”
Fora das pistas, Ricciardo está investindo o seu tempo em duas frentes distintas: uma competição de kart para crianças de baixa condição econômica, na Inglaterra, e uma cervejaria especializada em bebida artesanal. “Eu estou no automobilismo há 20 anos. E aprendi neste esporte que é muito importante ter outros interesses, como faz Lewis (Hamilton). Se você pensa em automobilismo todos os dias, durante o ano inteiro, você fica esgotado. É impossível”, afirmou. “Então, você precisa de outros interesses e a cervejaria foi algo que me pareceu muito legal.”
O australiano é sócio do britânico Jenson Button, campeão mundial da F-1 em 2009, na cervejaria. “Gostamos de cerveja e decidimos criar uma que as pessoas gostem, de diferentes estações, porque se trata de uma craft beer (cerveja artesanal), tem uma de inverno, outra de verão. É algo novo que estamos tentando, mas é claro que, se for bem-sucedido, vamos fazer dinheiro. Ao mesmo tempo, é algo para manter a mente longe do automobilismo”, comentou o piloto, acostumado a celebrar suas vitórias ao fazer de sua bota uma caneca para beber o champagne no pódio.
Novo “empresário” do ramo, o australiano já provou marcas brasileiras. Sem lembrar do nome delas, pediu ajuda à reportagem E não escondeu a empolgação pela chance de “conhecer melhor o mercado” do Brasil. Fez questão de agradecer a “ajuda” com um “obrigado”, em bom português, sem perder seu sotaque australiano