Bartô Granja, com Agências
O MST não ficará de braços cruzados diante da onda de violência que domina o meio rural. Depois da chacina de quinta-feira, 20, quando nove sem-terra foram assassinados em Mato Grosso, o grupo pretende reagir. Não com armas, avisa. Mas com voz alta, para condenar o que a instituição considera o fomento à violência no campo. Como exemplo, são citadas as ações do Palácio do Planalto que restringem as terras indígenas e dos quilombolas, e abrem espaço para o capital estrangeiro ocupar vastas áreas.
Neste sábado, 22, o Movimento dos Sem-Terra divulgou nota considerando uma “tragédia anunciada” as mortes ocorridas na quinta-feira, no distrito de Taquaruçu do Norte, em Colniza, extremo norte de Mato Grosso. Autoridfades policiais suspeitam que os autores dos crimes sejam capangas de fazendeiros da região.
Para o MST, porém, a chacina não é um fato isolado. A organização lembra que há dois anos Josias Paulino de Castro e Irani da Silva Castro, dirigentes camponeses do município, foram assassinados 48 horas após denunciar ameaças para o ouvidor nacional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Segundo nota do MST, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) apontou a região como uma das mais violentas do Brasil. “Essa onda de violência integra um avanço do modelo capitalista sobre os direitos dos trabalhadores, sobre a apropriação dos recursos naturais, terra, minerais e água. Avanço este potencializado pelo golpe que o Brasil está vivendo, e por projetos de lei como a PEC 215 que dispõem sobre as terras indígenas e quilombolas, a MP 759 que dispõe sobre a reforma agrária, e o PL 4059 sobre a compra de terras por estrangeiros, além de outros projetos e medidas provisórias que não são criados no sentido de resolver os problemas no campo, mas para aumentar a concentração fundiária”.
Ainda segundo a nota, nada está sendo encaminhado no sentido de impedir essas novas tragédias e “a repetição de outras que marcam o mês de abril, como Eldorado dos Carajás, que dia 17 completou 21 anos de impunidade” – em abril de 1996, dezenove sem-terra foram mortos em ação da Polícia Militar nesse município paraense. “Não podemos nos calar diante de tão grande dor; que nossa indignação alcance os responsáveis diretos e indiretos por este massacre, e que este não seja mais um caso de impunidade. Que o Estado não seja novamente conivente com os assassinos. A cada companheiro tombado, nenhum minuto de silêncio, mas toda uma vida de luta”, sublinha o texto.
Os corpos das vítimas já chegaram ao município de Colniza, onde vão passar por perícia e identificação. As informações são da Polícia Judiciária Civil do estado. As vítimas são todas adultas, não se confirmando, portanto, que havia crianças entre os mortos. Trêws dos mortos eram eram do estado de Rondônia e três do próprio distrito de Guariba. A procedência das demais vítimas ainda está sendo verificada.
Ainda segundo a Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso, os homens foram mortos por tiros ou facadas e estavam todos no local onde aconteceu a chacina. Os corpos foram resgatados no fim de sexta-feira e o transporte foi feito durante a madrugada deste sábado.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra, conflitos fundiários são comuns na gleba onde ocorreram as últimas mortes. Há mais de dez anos há registros de assassinatos e agressões na região. A CPT informou que investigações policiais feitas nos últimos anos têm apontado que “os gerentes das fazendas na região comandavam rede de capangas para amedrontar e fazer os pequenos produtores desocuparem suas terras”.