Bottom da imunidade
Senado hipócrita tenta julgar STF com dois pesos e uma só medida
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emO resultado das eleições de 2022 gerou um novo grupo no Brasil: o dos eternamente ressentidos com a derrota. Além do mito imbrochável, incapacitado e jubilado da política, entre esses estão um bando de abutres e parasitas travestidos de parlamentares e mais um buzilhão de oportunistas denominados bolsonaristas que, formados nos cursos superiores de beira de esquina, batem à porta do Congresso em busca da impunidade. São os tais que, em nome dos próprios interesses, decidiram escolher o Supremo Tribunal Federal e seus ministros como bois de piranha das mazelas que eles mesmos criaram e não sabem como acabar. Sem entrar no mérito, a quem interessa a campanha contra o Poder Judiciário? Todos sabemos que a instituição deixa a desejar. E não é de hoje.
Então, por que somente agora o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e a “plêiade” de viúvas intragáveis e incomodadas de Jair Messias resolveram doutrinar o STF? Será que a dívida deles com a Justiça extrapolou os limites da imunidade? Com certeza, a honestidade duvidosa da maioria pesou dois quilos e meio na balança hipócrita dos que respondem a quilômetros de processos penais por desmandos, agressões físicas e verbais, corrupção e demais atos nada republicanos. Suas excelências de cá cobram decência das de lá, mas permitem que a indecência seja a base do comportamento dos pares eleitos com apoios também duvidosos. Na prática, são dois pesos e uma única medida no julgamento parlamentar dos ministros do STF.
A preocupação unilateral dos senadores e de parte dos deputados com os poderes do Supremo começou no primeiro dia de 2019, quando a falta de decoro, o golpismo, a desordem e a incivilidade se instalaram no Brasil. Se as decisões dos ministros da Corte Suprema são contrárias aos interesses da sociedade, o que dizer das propostas insanas, infames, criminosas, covardes e escrotas de suas majestades da boquinha? Fosse eu ministro do STF, usaria a máxima de Bob Marley, que, um dia, disse aos detratores: “Vocês riem de mim porque sou diferente, e eu rio de vocês porque são todos iguais”. Se alguém duvida, que atire a primeira pedra. O risco de cair na própria cabeça é grande.
Reiterando que também tenho um milhão de restrições à Corte, lembro que lá não há espaço para mentiras, arroubos golpistas, violência contra mulheres e desafetos, tampouco condecorações a bicheiros e organizações criminosas variadas, com destaque para a milícia do Rio de Janeiro. O mais importante é que no Supremo e nas demais instâncias do Judiciário não chegam analfabetos metidos a intelectuais, muito menos foras de lei loucos pela imunidade. São os mesmos que querem impedir os ministros do STF de, em uma emergência, decidirem monocraticamente sobre um tema que, obrigatoriamente, terá de passar pelo crivo do colegiado.
Tudo indica que, ciceroneados pelo senador Rodrigo Pacheco e companhia, a turba da fila das emendas parlamentares quer a independência dos podres poderes só para ela. Desinteressante do ponto de vista da ética e da nobreza, a harmonia é um item desprezível, brochante e absolutamente desimportante. O que realmente importa é a liberdade para a sacanagem desenfreada. Apesar das facilidades que o voto garante, o Poder Judiciário ainda é um empecilho para que a(s) temporada(s) de um congressista valha a pena. O custo de uma campanha é alto. Isto quer dizer que o retorno precisa ser duplicado, triplicado e, comumente, quadruplicado. Essa é a lei. Aliás, o que verdadeiramente deputados e senadores temem é a mão pesada da Constituição e a dureza da Alta Corte contra a deslealdade do Parlamento com as leis.
Em resumo, sou a favor da PEC limitando os poderes do STF, desde que haja uma PEC paralela limitando a ganância do Congresso pelo poder. A democracia exige o equilíbrio entre os Três Poderes. A instabilidade institucional interessa apenas aos arrogantes, invejosos, vaidosos, desequilibrados e devedores da Justiça. Curiosamente, a maioria desses tem o mesmo apelido: bolsonarista. Nada de mais para quem já tentou fechar o próprio Supremo, acabar com a República e transformar o Brasil em uma república de bananas podres. O tempo dirá quem está com a razão. Em lugar de se preocupar com os togados, os parasitas bem que poderiam pensar em criar leis que impeçam o Judiciário de soltar bandidos comuns e de paletó e gravata com uma canetada. A segurança e o bolso do povo são mais importantes do que o mandato ou a forma como julgam os ministros do Supremo.
*Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras