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Visita à Papuda

Senadores santificam e interrompem as férias compulsórias de Silvinei

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior* - Foto de Arquivo

Que me perdoem os arautos do absurdo e das bobagens, mas a patética romaria dos 16 senadores bolsonaristas à cela do ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, em férias compulsórias no Complexo Penitenciário da Papuda, mostrou que nossos políticos ainda estão muito longe da maioridade. Bajuladores eméritos de um cidadão que, em breve, terá o mesmo destino, eles esquecem que, com exceção de seus eleitores, não tem mais bobo na política. Com todo respeito ao cargo que exercem em benefício próprio ou dos seus, será difícil para esses cidadãos qualquer exigência de respeito político dos brasileiros que se opõem ao golpismo, ao ódio e ao puxa-saquismo exagerado e desnecessário.

Denominados “patriotas”, as excelências dos horrores choraram, oraram e, um dia após o convescote junino na Papuda, se dirigiram à Procuradoria-Geral da República certamente para pedir a revogação da prisão de Silvinei, o santinho de farda que, no segundo turno das eleições presidenciais de 2022, fez de tudo para favorecer o chefe Jair Messias. Para os que têm memória curta, com apoio do Palácio do Planalto e do então ministro da Justiça, Anderson Torres, Silvinei e seus asseclas, usando viaturas oficiais e servidores pagos pelo povo, tentaram bloquear rodovias de cidades nas quais o candidato Luiz Inácio Lula da Silva despontava como vencedor.

As estradas do Nordeste foram as mais visadas. De nada adiantou, pois Lula está aí, enquanto Bolsonaro percorre o país tentando mostrar que é o que nunca foi e jamais será. Se os senadores da boquinha não se recordam, isso é crime gravíssimo. Lamento, mas tomar remédios para ansiedade, estar magro e conviver com presos de alta periculosidade não são argumentos para requerer sua liberdade. Judas para o eleitor livre, tivesse ele pensando antes de cometer a barbárie que cometeu em nome de Jesus. Ladrões de galinha, de picanha e de iogurte vivem em situação muito pior, mas são invisíveis para os mesmos senadores.

Supostamente os obstinados e abnegados “patriotas” neopentecostais que vandalizaram as sedes dos Três Poderes em janeiro de 2023 torcem para que os parlamentares do porão do conservadorismo consigam soltar Silvinei, que, na opinião deles, não fez nada de errado. Também acho. Ele fez tudo certinho. Só não contava com a astúcia dos antagônicos e com a coragem e a força dos nordestinos. São essas excelências que querem consertar o Brasil. Como? Soltando foras da lei, endeusando déspotas e satanizando quem está tentando acertar. Errou quem acha que estou errado.

Curioso é que são os mesmos que até hoje acham que a violenta e estúpida depredação do Congresso, do Palácio do Planalto e do Supremo foi apenas uma brincadeirinha mais radical dos bobalhões fantasiados de verde e amarelo, também conhecidos como bolsonaristas raiz ou comedores de cocô com colher. É esse o público a ser agradado pelas excelências do Senado. Salvo engano, está na Constituição que esses moços deveriam dar o exemplo. Nunca deram, não dão e, mesmo sob juramento, é improvável que um dia deem. Faz parte do DNA dos políticos brasileiros achar que a endêmica burrice do eleitor, responsável direto por eles estarem onde estão, é eterna.

Um dia, certamente o cocô azedará e aí ou o país deve virar uma nação séria e capaz de separar os oportunistas e aproveitadores dos bons. Se isso não ocorrer, ainda seremos conhecidos como uma república de titica, daquelas bem fedorentas. Meus caros senadores, sejam coerentes, menos passionais, mais adultos, menos bajuladores e trabalhem pelo Brasil e pelo seu povo. Os senhores têm todo o direito de não gostar e de querer acabar com quem os derrotou. O que não pode é usarem o mandato para transformar o Senado em um picadeiro e seus eleitores em palhaços. Silvinei foi preso porque cometeu um crime. E lugar de criminoso é na cadeia. Cuidado, pois com certeza chegará o tempo em que os bobos ocuparão definitivamente o espaço dos espertos. Vocês não são anjos.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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