A área do emagrecimento nos mostra o quanto o inconsciente é poderoso, ele determina o momento propício para que a perda de peso ocorra, isso se o paciente realmente puder acessar os conteúdos que estão interferindo para que se alcance o peso saudável.
Já ouvi várias vezes no consultório pacientes dizerem que o inconsciente é um inimigo, mas ele não é. Ele tem o intuito de proteger, de não permitir que se tenha acesso a situações que causem sofrimento intenso.
Dentro do trabalho que desenvolvo percebo que a gordura tem uma função de proteção, de escudo contra a dor, sejam dores reais ou imaginárias, pois tudo depende das experiências que vamos experenciando durante nosso ciclo de vida.
Já ouvi histórias lindas em que ao se deparar com o estímulo primário, foi possível se libertar dessa capa de proteção que foi acumulando, e outras pessoas em que além do emocional havia uma série de situações que contribuíram para o aumento de peso, lembrando que a obesidade é uma doença multifatorial.
Porém, perseguir a ideia do corpo magro não é tão simples assim, o simples verbalizar que se quer emagrecer não significa realmente que se tomou essa decisão. O que faz toda diferença nesse processo, salvo algumas situações pontuais que vemos por aí, é que estar acima do peso é um jeito de ser, de se comportar perante a vida.
Durante o processo de terapia vamos identificando comportamentos impulsivos que surgem, por exemplo, quando uma pessoa se depara com milhares de opções de doces maravilhosos dentro de uma confeitaria e acaba comprando vários e os engole antes de chegar em casa, dentro do carro mesmo. Esse comportamento é semelhante ao que a pessoa apresenta quando perde o controle com outras situações de sua vida, quando acaba mostrando um quadro de ansiedade incontrolável, quando o crush não responde a mensagem que enviou pela manhã e quando se dá conta já enviou milhares de mensagens até finalizando o que nem começou.
Há uma infinidade de jeitos de ser em que a perda de controle se apresenta, talvez um dos mais comuns seja o perfeccionismo, onde passamos o dia todo dando conta de tantos compromissos que ao findar do dia, relaxamos e nos presenteamos com o excesso alimentar. De qualquer forma, esse jeito perfeito de ser precisa estourar em algum lugar, para esvaziar o que já está no limite.
Poderia dar vários exemplos até que você se identifique com algum deles, mas o texto ficaria extenso e perderia o foco que é fazer com que se olhe de verdade e perceba que atrás da verbalização de que quer emagrecer, tem um ser que também já está acomodado dentro desse corpo, que de alguma forma faz parte da sua personalidade, mesmo que essa ideia seja repulsiva para você.
Reconhecer que a comida serve como amortecedor de dificuldades, de dores que acumulamos durante a vida é o primeiro passo real de que estamos mais perto da possibilidade de perder peso realmente.
Talvez poder conversar com esse eu interno e decidir fazer as pazes com ele, buscando ajuda não mais em uma dieta da moda na intenção de se resolver tudo com um corpo magro, pois isso não é possível, mas sim na reconciliação consigo mesmo, com o seu corpo e principalmente com todas as experiências de dores de sua vida.