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Será Xi Jinping o inspirador do modus bruxo Voldemort do velho Donald Trump?

De saco cheio das bravatas e da caneta grossa, preta, roliça e sem ponta de Donald Trump, resolvi recorrer aos pensamentos filosóficos para reconhecer que, apesar do sangue nos olhos e de seus amplos e assustadores poderes, o presidente republicano não é rei, muito menos Deus. Em outros tempos, recorreria aos ensinamentos caninos do velho Aristarco Pederneira, meu avô, para quem todos aqueles que se sublimam, se enaltecem e glorificam sucumbem na primeira curva. Em palavras corriqueiras e, portanto, mais acessíveis, o cão que ladra muito alto se limita a mostrar os dentes, a abanar o rabo raivosamente, assustar, mas não morde tanto quanto anuncia.

No máximo, rosna, mia, bica, mas acaba se recolhendo às obrigações caseiras, constitucionais ou pessoais, entre elas a de não ter de se meter com quem assume que dá o que é seu. E, como diz o ditado popular, quem tem coragem de dar o que é seu não deve ser desprezado. Os tempos são outros e, como democrata raiz, admito, mas não aplaudo a controversa agenda do presidente Trump. É por isso que, mesmo sem conhecimento de causa, decidi por conta própria assumir uma simpatia relativa, distante e sem camaradagem alguma por Xi Jinping, o também poderoso presidente da China. Será Jinping o muso inspirador do modus bruxo Voldemort de Trump? Pode ser.

Afinal, sem gritos, esperneios e, principalmente, sem perseguições obtusas e públicas, ele vem comendo pelas beiradas e, com sua minúscula canetinha Bic de ponta fina, caminha a passos largos para engolir os Estados Unidos como o patriarca do mundo globalizado. Como tudo pode mudar a qualquer momento, torço para que algum membro do governo Trump use a cabeça de cima para pensar por ele embaixo. No Brasil desta década alguém teve tutano, recolheu os canhões e, em nome de Deus, da pátria e da família, preferiu não atirar a esmo. Foi melhor para gregos e baianos. Nos EUA ainda é cedo para dizer o que o mandatário republicano conseguirá realizar sem mexer em vespeiros de marimbondos nucleares ferozes e com formato de cogumelos.

A princípio, Canadá, Groenlândia e Panamá são apenas sonhos de um inverno escaldante, embora gelado, daqueles que se bobear encolhem a língua de faladores e o negócio de quem parece apenas preocupado com o negócio dos outros. Para os seus, basta que ele faça o dever de casa e, como disse Stanislaw Ponte Preta, esqueça que nem todo rico tem carro, nem todo ronco é pigarro e nem toda tosse é catarro. Sobre Donald Trump e Xi Jinping, dizem os pensadores que em guerra tarifária e de vaidades não há vencedores. Vale lembrar a ambos dois atualíssimos ditados em latim: Duo curculio non osculari e Omnibus simia in suo genere. Aportuguesando, o bom senso quer dizer, respectivamente, dois bicudos não se beijam e cada macaco no seu galho.

Ou seja, Trump alardeia o que suas promessas de campanha e Jinping, em silêncio, mostra ao mundo como se mata a cobra e se mostra o pau, isto é, Assassinatus ofidium mostratis pênis. Como se percebe, os termos em latim são variados, extensos e cabíveis em qualquer frase em português. Conheço brasileiros que estão pensando seriamente em se aboletar em frente a White House com faixas e cartazes neolatinos dirigidos ao presidente pra lá de homofóbico. Informal e espiritualmente, tive acesso a algumas dessas faixas. Com o pote até aqui de mágoa, os brazucas furibundos com os atos e gestos do indigesto republicano pintaram com brochas parecidas com as de Trump mensagens do tipo: Gays solum abire (deixem os gays em paz) e Solum relinquere immigrantes (deixem os imigrantes em paz).

Meu avô Aristarco vai se remexer no túmulo, mas não posso perder a oportunidade de lembrar ao tio norte-americano que em boca fechada não entra mosca. Os antigos romanos diziam: Os clausum non potest intrare muscas. Talvez fosse melhor informá-lo que, na língua indo-europeia, ficar sentado ameaçando o mundo está em desacordo com a tese do Caboclo Cobra Coral, para quem Ofidium estaticus anurum num paparum, que significa cobra que não anda não engole sapo. Por isso, em lugar de ameaçar quem nada tem a ver com seu mau humor, Trump precisa se sentar com Jinping, Putin e Justin Trudeau, premiê do Canadá, chamar à terra os espíritos de Clodovil Hernandes, Clóvis Bornay e Jorge Lafond e, juntos, entenderem de uma vez que Corvus oculum corvi no eruit, que também pode ser lido como corvo não arranca o olho de outro corvo. Quanto às minorias perseguidas, o que posso dizer é pouco: Cui bono? Melhor dizendo, quem se beneficia com a sanguinária retórica de Donald Trump? Deus salve a América.

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*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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