Em meio ao debate em Nova York sobre a limitação do número de motoristas das empresas de compartilhamento de carona, como o Uber, um ponto-chave estava flagrantemente ausente: o Uber e as empresas similares nascidas do recente boom tecnológico – Airbnb, Lyft e outras – não estão mexendo apenas com os serviços de indústrias antigas, como os táxis. Eles estão mexendo com os serviços governamentais também.
Quando o custo de uma “corrida” compartilhada se aproxima daquele de uma passagem de ônibus e um turista pode reservar um apartamento pela metade do preço de um quarto de hotel que rende impostos, os governos locais devem tomar conhecimento.
As empresas de consumo estão redefinindo as expectativas e o contrato social entre a cidade e o cidadão. Não é mais aceitável para os governos oferecer “um formulário que deve ser preenchido para isso” quando as empresas do setor privado demonstram que “há um app para isso”.
Então o que exatamente os governos locais estão fazendo? Na Conferência de Prefeitos dos EUA em julho deste ano, mais de 300 prefeitos discutiram essas questões, compartilhando maneiras de se conectar melhor com os cidadãos, a implantação de apps criados pelas prefeituras “que peguem” entre os habitantes e a criação de “painéis de informação da cidade”, sites com informações sobre a cidade em tempo real. Os prefeitos norte-americanos não são os únicos nessa luta. Sydney, na Austrália, está usando a tecnologia para melhorar e definir novos padrões de serviço – desde diminuir o tempo de espera nos centros públicos de horas a seis minutos até encurtar o tempo que leva para obter um “cartão do idoso” em 3.000%.
O denominador comum de tudo isso são os dados. E não apenas os dados do setor público. A oportunidade de hoje reside na combinação de dados públicos, privados e sem fins lucrativos para a criação de um novo “triângulo dourado” da informação – um que ajude os prefeitos a lidar com o modo com que suas cidades vivem, respiram e se movem. É esta mistura de informações que tem o potencial de mudar radicalmente a forma como as cidades são governadas, passando de tomada de decisão política para a tomada de decisões com base em dados.
Quando eu trabalhava como diretor de tecnologia do Distrito de Columbia, eu abri o depósito de dados públicos do Distrito para que todos – contadores, legisladores e empresas – pudessem obter insights, contribuir para a melhoria dos serviços e receber prestações de contas do governo. Mais tarde, enquanto servia como o CIO dos Estados Unidos, eu tive a oportunidade de expandir esse experimento nacionalmente, com o lançamento da plataforma Data.gov, que tornou acessível o trabalho do governo federal e deu o acesso ao público a dados econômicos, de saúde, ambientais e de outros serviços.
Estamos agora no limiar de uma nova revolução de dados, no qual governos, empresas privadas e organizações sem fins lucrativos têm a oportunidade de colaborar e realmente fazer de suas cidades lugares melhores para se viver.
Imaginem os motoristas do Uber ou de serviços semelhantes compartilhando dados anônimos com seus governos locais sobre novas rotas que poderiam ser utilizadas por ônibus. Ou inserindo esses dados em sistemas de informação de segurança pública, para reduzir acidentes de trânsito. Imaginem a AirBnb compartilhando dados anônimos dos locatários para permitir que as cidades informem a empresas pequenas sobre as melhores momentos para se fazer negócios, como os dias em que seu número de vagas disponíveis é baixo – uma indicação para quando uma região tem uma ocupação alta e, portanto, muita atividade econômica.
Os governos que defendem esse “triângulo dourado” não só estão à frente dos problemas, mas também se beneficiam de uma maior transparência com seus cidadãos. As empresas privadas também poderiam tolerar um pouco mais de abertura e conexão com as cidades em que atuam, principalmente quando a maioria dos seus dados é de informações sobre os cidadãos. Na verdade, as pessoas querem participar na melhoria das suas cidades.
Uma recente pesquisa realizada pela Salesforce descobriu que quase metade (49%) dos cidadãos iria compartilhar com seus governos locais sua localização em tempo real para que pudessem ter maior segurança. E 54% iriam compartilhar dados de seus veículos pessoais para melhorar o transporte.
Claro que, como em todas as revoluções, a maior ameaça é o status quo. As empresas privadas estão relutantes em compartilhar seus dados com os governos, enquanto muitas cidades criam uma “miragem de transparência”, liberando dados de baixo valor.
Felizmente, o tema da tecnologia e da economia compartilhada está emergindo como uma questão chave na próxima eleição presidencial norte-americana. E isso é uma boa notícia. Este não é um tempo para ser tímido. Os governos devem expandir essa discussão e buscar oportunidades nessa maré de rupturas. Se os governos locais não agirem hoje, correm o risco de ficar para trás.
Vivek Kundra