Simbólica e cabalística, Sexta-Feira 13 me remete a histórias hilárias da juventude. Foi exatamente em uma delas que tive a certeza de que os patrícios portugueses gozam deles mesmos. Só para ilustrar, o gozar a que me refiro tem somente a conotação de caçoar. Pois a certeza veio quando ouvi meu avô Aristarco Pederneira, em um dia como hoje, indagar a um conterrâneo de Trás os Montes se a mulher do cidadão fazia sexo com ele por amor ou por interesse. Intrigante, mas objetiva, a resposta foi na lata: “Claro que é por amor, porque ela não demonstra nenhum interesse por mim”.
Desgostoso, o amigo do velho virou frequentador assíduo da ZBM, conhecida nos botecos de periferia como Zona do Baixo Meretrício, em busca de prazer prolongado. Lá, sempre que chegava, perguntava à gerente do bordel quanto custava o programa.
Em um dessas “visitas”, uma gerentona nova, gorda, fora de forma e naturalmente no banco de reservas, respondeu sem fixá-lo que dependia do tempo. “Suponhamos que chova”. Não precisou dizer mais nada. Foi expulso do recinto a pontapés. Tentando se camuflar sob o perfil sonhador de um japonês, Joaquim, o amigo do vô, saiu da ZBM e adentrou em um suposto restaurante. Antes mesmo de se sentar, pediu uma bacalhoada e um vinho dos mais rascantes.
Brincalhão, mas solícito, o atendente apostou na naturalidade do gajo. – Já sei! O senhor é português? Sem mover uma de suas várias rugas e sem mexer um fio das taturanas (sobrancelhas), o portuga quis saber como o brazuca havia descoberto sua origem.
“Foi por causa do meu sotaque ou por conta do prato que pedi?”. Escondendo o riso no canto da boca, o balconista ainda bem jovem disse que nenhuma das duas hipóteses estava correta: “É que aqui é o Mc Donald”.
Pussesso da vida, Joaquim de sobrenome Manuel foi, no dia seguinte, uma segunda-feira, a uma loja de sapatos. Escolheu daqui, escolheu dali e acabou se decidindo por um par de sapatos de cromo alemão. O vendedor entregou o pisante, mas antes alertou que os sapatos costumam apertar os pés nos primeiros cinco dias de uso. Também conhecido por Joca Wel, Joaquim informou ao vendedor que não haveria problema, pois só usaria os calçantes no próximo domingo.
Como diria o tricolor Stanislaw Ponte Preta a lógica dos portugueses é algo assustador. É claro que, bem mais modernos, os de hoje utilizam maciçamente a inteligência. A artificial, é claro. É por isso que eu, neto assumido de um, prefiro achar que eles são práticos.
O próprio Aristarco quando chegou ao Brasil fugido da Guerra dos Cravos só usava a letra “T” em sua agenda de telefone. Quer coisa mais inteligente do que procurar pelo telefone do Ambrósio, telefone do Serafim e telefone do Antônio? Além de práticos, eles são evoluídos. Lembro que, ainda no século passado, lançaram em Portugal o Disk-Finados. Era uma novidade telefônica. O familiar do morto ligava e, de imediato, ouvia um minuto de silêncio.
Sempre fui e sempre serei fã incondicional do Stanislaw. O que nunca aceitei foi sua birra com os portugueses. Inventivo e escriba dos melhores, um dia ele inventou que meu avô Aristarco Pederneira havia surtado ao informá-lo que os portugas tomavam banho mijando contra o vento.
Muito pior foi o meu, o seu, o nosso Sérgio Porto, galhofar que, após convidar o velho Pederneira para o aniversário de 15 anos de sua filha, ouviu meu avô informar que aceitava o convite, mas não poderia ficar por mais de dois anos.
Sou demasiadamente realista. Por isso, concluo que só existe uma piada de português. As demais histórias são a mais pura verdade.
Disse isso a Joaquim Manuel no dia em que lhe perguntei se ele havia visto meu avô dobrar a esquina. Ao ouvi-lo dizer que, quando ali chegou, a esquina já estava dobrada, tive certeza de que ele era um caso perdido.
Perdido? Claro que não. De tão desligado, ele é um achado. Antes de retornar a pé para Portugal, foi ao médico da família reclamar que o filho de dois meses ainda não tinha aberto os olhos.
Sério somente por fora, o doutor não se fez de rogado: “Quem tem de abrir os olhos é você, pois o miúdo é filho do japonês que você tanto queria ser”. Foi a gota d’água, pois, bem antes de o menino nascer, o amigo do velho soube que estava isento do novo imposto sobre sexo. E lembrar que tudo isso se passou em uma Sexta-Feira 13. Sai pra lá, portuga de uma figa. Tesconjuro, pé de pato, mangalô três vezes.
*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras