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Shrek é opção para quem quer liberdade e democracia plena

Faz dois longos anos e cinco meses aquele antigo reino encantado dos portugueses está acéfalo. Para muitos, parece desgovernado e bem próximo de um abismo sem fundo. Para os mais otimistas, trata-se apenas de uma paralisação temporária, daquelas que pode ser resolvida com um novo rei. Seja lá o que for, há convergência sobre a necessidade de mudanças urgentes. Como nos filmes de ficção, castelo dourado lembra um pântano de areia. Pior é a floresta. Antes encantada, agora abriga um monstro tão feroz quanto os friseis que o ajudaram a degenerar. Pelo menos esse é mais honesto, pois preferiu não enfrentar e tornar pública sua incapacidade de viver em sociedade. No mato ou no asfalto, o reino parou por absoluta falta de um rei capacitado, correto e de boas maneiras.

Enquanto isso, o abominável homem das neves é pego diariamente na mentira, derrete em pleno inverno do Hemisfério Sul. Ele é a prova viva de que nada adianta a um homem ganhar o mundo todo e perder-se a si mesmo. Julgar-se apto a tudo compreender não lhe permitiu ser compreendido. Na verdade, jamais pensou nisso. Shrek também experimentou idêntica situação. Esqueceu a máxima bíblica de não fazer com os outros o que não admite seja feito consigo. É a lei de causa e efeito. Nossa mente pode nos levar a ver fantasmas e obstáculos onde não existe. Não é o caso do reino da Terra Brasilis. Nele, o que surgiu do nada como suposta solução acabou virando um problema aparentemente insolúvel.

Tudo vai depender do resultado das urnas (sem o voto impresso, é claro) em outubro de 2022. Como cantou certa vez um pequeno grande intérprete, aguardemos, pois “tudo passa, tudo passará”. Devo estar sob suspeição, porque, embora não tenha formado opinião entre o roto e o esfarrapado, opto pela democracia plena, que hoje é sinônimo do ogro. Antes super-herói, hoje Shrek está mais para coringa para aqueles que sonham com liberdade, dias melhores e, principalmente, para os que deixaram de gostar ou que apenas suportam o rei. Parafraseando um magistrado famoso, mas que odeia acompanhar seus pares, a quadra que vivemos merece uma outra máxima: onde uma família governa achando que manda, poucos obedecem.

No português mais ortodoxo, lembramos uma ZBM, indicativo de uma casa de moças de vida difícil comandada por soldado de “puliça”. Nada contra os soldados. Aliás, no palácio ou no mato, talvez eles sejam mais eficientes do que qualquer outra autoridade de patente superior. No palácio, o rei não sabe o que faz, muito menos para onde vai. Parece que o povo ainda não se deu conta disso. Ou não. Tomara que eu esteja errado. Como cabe a esse mesmo povo encontrar soluções para as agruras do dia a dia, melhor apostar no aprendizado gerado pelo sofrimento desses dois anos e meio. Com as barbas que não tenho de molho, reitero que, entre o abominável homem das neves e o ogro, a exemplo da maioria do eleitorado do reino, já fiz minha opção.

Na ausência quase real de uma terceira via capaz de nos devolver a segurança democrática, provavelmente terei de contribuir para tentar transformar Shrek novamente em nosso rei. Capital político ainda tem de sobra. Claro que ele também mentiu, errou, mas, se tiver uma segunda chance terá obrigação de mostrar que é um ogro do bem e verdadeiramente da paz e do amor. Que venha 2022. Que Shrek se renove e aprenda definitivamente que governar o Brasil não é uma ação entre amigos. Sob qualquer hipótese, não é permitido confundir o público com o privado.

Dividir cargos, espaços e lucros só na própria empresa, mesmo assim com a devida parcimônia. Portanto, oxalá a lição tenha sido aprendida e que, na sua terceira encarnação, Shrek olhe pelo retrovisor e jamais esqueça que a história não perdoa àqueles que insistem no erro. O povo brasileiro é bom, mas cansou de ser visto como maricas ou ser de menor potencial ofensivo, ou seja, passivo e incapaz de reação. É chegada a hora de fazer como a Fênix: renascer e levantar a cabeça, pois dias melhores estão por vir. Quanto aos mais velhos, melhor respeitá-los, porque esses, além de mais memória, não se formaram no Google.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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