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Cargueiro avariado

Silêncio de Bolsonaro explica balbúrdia histérica dos fanáticos

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Marcelo Camargo

Associado ao sumiço de semanas, o silêncio ensurdecedor do presidente da República em exercício não entristece, incomoda ou assusta mais a maioria do povo brasileiro. Afinal, essa maioria já estava acostumada com o pouco caso do mito, que, via lives ou no cercadinho do Palácio da Alvorada, só se dirigia a seus simpatizantes, de forma especial aos patriotas mais fanáticos. Os gritos, xingamentos e ameaças eram a sobra da verborragia harvardiana do ex-quase ditador e normalmente regurgitadas na direção dos que não fechavam com suas pregações. Estes sabiamente optaram pela democracia. Os demais, justamente os surdos e cegos, são os que tentam acordar o golpista Jair Messias e, mesmo sem razão, permanecem nas ruas buscando alterar o inalterável. Ou seja, apesar de não incomodar, o silêncio é autoexplicativo: tudo a ver com a gritaria histérica dos fanáticos.

Difícil entender, mas fácil de compreender. Nessa altura do campeonato, poucos brasileiros, mesmo os da elite, conseguem se manter no topo sem uma boquinha superavitária. Que o diga o entorno fardado de sua excelência. Por isso, os exageros da baderna protagonizada pelas facções bolsonaristas, sobretudo as que se mantêm vinculadas a pastores metidos a sérios, a militares favoráveis a um golpe e a setores negacionistas do agronegócio. São os segmentos que mais torcem pela crise, pois é a partir dela que eles buscarão mecanismos de continuar se servindo econômica e socialmente do país. Desculpem, mas perderam, manés. O vento virou. A partir de janeiro, o Brasil será outro, com novos ares, nova mentalidade e de volta para o futuro. Consciente das dificuldades que o governo de transição vislumbra, o povo já decidiu pelo fim da mamata.

Quanto ao gritante silêncio de Jair Messias, o mais curioso é que a quietude do mito também é observada entre seus pares. Foi assim em um recente jantar de confraternização do Partido das Lágrimas (PL), onde o presidente entrou mudo e saiu calado. Tudo indica que o mutismo do mandatário nada tem a ver com sintomas tardios de serenidade, calmaria, sossego ou remanso. Prova disso é que, além de agir na surdina para manter o gado nas ruas e rodovias, Bolsonaro continua brigando com Deus e o mundo. Durante o rega bofe do PL, ele teve uma acalorada discussão com a deputada federal Carla Zambelli. Talvez por conta de a parlamentar ter sacado uma arma contra um cidadão comum e petista na véspera do segundo turno, o que certamente custou preciosos e caros votos à campanha bolsonarista.

O problema da maldita quietação presidencial é a inquietação que ela causa na sociedade. O povo que deixou de ser mais besta sabe que é sempre na calada que surge o alvoroço, a balbúrdia e a barafunda. Pois é o que está ocorrendo tanto na política quanto na economia. De um lado, o governo silencia diante da esbórnia da patriotada canarinho em frente aos quartéis; de outro, passa a faca, sem dó nem piedade, nos recursos das universidades federais. Apesar do aumento expressivo na arrecadação, sua excelência não faz nada para conter os ímpetos do ministreco Paulo Guedes, da Economia. Para se adequar ao teto de gastos, Guedes determinou o bloqueio de R$ 244 milhões de verbas de instituições de ensino superior. Ele e os rebeldes sem causa esquecem que, embora destinada a estudantes carentes, as universidades federais estão infestadas por parasitas oriundos dessa elite hedionda e morrinha.

O fato concreto é que o Brasil está fora dos trilhos. O que a equipe de transição tem encontrado lembra terra arrasada. Não há uma única área que não tenha sofrido com o desmonte e o sucateamento. O estágio de letargia – quase paralisação – do governo federal e, por extensão, do país, ressalta a importância do resultado eleitoral de 30 de outubro. Já imaginaram o que seria da nação diante da permanência de um presidente absolutamente despreparado para o cargo? Será que os patriotas de ocasião continuariam com suas bandeiras encardidas e malcheirosas adornando automóveis e varandas no caso de um caos econômico? Certamente que não! Mantido o pesadelo de uma nova administração Bolsonaro, com certeza este seria o cenário nacional a partir de janeiro. Vai demorar, o trabalho será árduo, mas, com certeza, os “comunistas” farão de tudo para consertar as numerosas avarias descobertas no casco do cargueiro chamado Brasil.

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