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Silêncio no mundo político vale muito mais do que mil palavras

Uma das piores disputas presidenciais de minha vida, a que se avizinha parece que já tem um perdedor: o eleitor. O vencedor, se houver, deverá ser aquele que fizer mais besteiras ou disser mais bobagens. Um dos ditados mais antigos do mundo, o segredo como alma do negócio não faz qualquer sentido para os dois principais candidatos ao Palácio do Planalto. Pois deveriam. A referência ao segredo é sinônimo de silêncio. E, como diz outro velho ditado, em boca fechada não entra mosca. Há um pior, bem sintomático e deve ter sido cunhado sob medida: o peixe morre pela boca. Se fosse marqueteiro do mais falador – o outro é mais fazedor -, diria a ele que o silêncio é um amigo que nunca trai.

Nesse sentido, faltando menos de seis meses para a definição de poder, melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do que falar e acabar com a dúvida. Não se pode esquecer que, como resposta, o silêncio fala muitas vezes mais do que mil palavras. A antiga sabedoria nos informa que nem sempre a solução aparece após se pensar noventa e nove vezes. Nascido no século passado, faço isso com relativa frequência e, às vezes, depois de muita reflexão, percebo que o outro lado não é tão distante. Em outras palavras, penso, penso, penso e nada descubro. Deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio e eis que a verdade me é revelada.

Como não tenho conhecimento para falar de marketing, fico na realidade do silêncio como virtude que revela o olhar dos sábios. Recém-saído (?) de uma pandemia que transformou quase 700 mil brasileiros em números, vivendo sob o manto de uma inflação galopante e temerária e cada vez mais longe de uma saúde digna e eficaz, o povo, também apelidado de eleitor, não quer saber de retóricas burras, muito menos de desculpas esfarrapadas sobre a necessidade de se levantar o moral ou de tentar ressuscitar “mortos” da caserna. Quando se luta contra a fome e a favor de mais empregos, qual a importância da legalização do aborto e do controle da mídia?

Sinceramente, nenhuma. Importante e péssimo para uma e outra candidatura é criticar a classe média, sugerir o mapeamento das casas dos deputados para futuras manifestações e usar dinheiro público para criar escândalos que não conseguem ser explicados. E esses, mais de um lado do que de outro, surgem em profusão. Diante do amontoado de coisas produzidas nesses últimos três anos e meses, o mensalão, embora verdadeiro e ainda parte do noticiário nacional, está virando brincadeira de polícia e ladrão. O fato novo é que o símbolo de honestidade se desmilinguiu. Depois do filé, da cerveja, do leite condensado e da incursão de pastores evangélicos no MEC, eis que surge o famigerado Viagra, o remedinho que levanta defunto em decomposição.

Se a saúde do povo é desnecessária e se falta clareza e objetivo sério nas compras do governo, sobra criatividade ao povo. Tanto que, logo após as primeiras notícias relativas à compra de 35 mil unidades do azulzinho, o escândalo recebeu apelido nada honroso: “Paumolão”. Obviamente, a desastrada licitação feriu de morte a imagem dos militares do Exército, Marinha e Aeronáutica. Difícil acreditar em líderes que expõem as vísceras de seus liderados e as mazelas internas sem preocupação alguma. Também difícil crer em quem, até agora, ainda não falou de projetos ou ideias. Portanto, as dificuldades são enormes.

A experiência nos ensina que as estradas da vida nem sempre são planas e lisas. Têm subidas, descidas, retas, curvas, poeiras, noites e tempestades. O problema é que as nossas só têm lama. Voltando aos conceitos do silêncio, falar e silenciar é como o sol e a lua: quando um está presente, o outro se esconde. Entre os potenciais candidatos, um não se aguenta em pé, mas acredita que vencerá no grito. Na verdade, tem certeza. Quanto ao outro, sei lá. Tenho a impressão de que sua amplitude está em fechar a boca. Por isso, se tivesse alguma noção de marketing político, repetiria a célebre frase dita, em 2007, pelo rei João Carlos I de Espanha ao então presidente venezuelano Hugo Chávez: “Por que não te calas?”.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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