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Difícil é realizar

Sim; não. Dizer o que se quer ou o que se pensa é da democracia

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Reprodução/Mercado Comum

Antes eventuais, minhas reflexões político-eleitorais têm sido quase diárias. Tenho agora várias razões para essa mudança de rumo, para essa complicada e cada vez mais cardíaca necessidade de ter um presidente para chamar de meu. São muitas, mas uma foi determinante: a dificuldade de escolher um entre em um leque de nenhum capaz de me fazer a cabeça de eleitor inveterado e demasiadamente preocupado com o futuro do meu país. De um lado, um postulante adepto de teses golpistas e que se diz prisioneiro de uma Constituição cidadã e absolutamente democrática. De outro, um concorrente com segredos de alcova e de gabinetes amplamente divulgados, mas sempre com demasiada desconfiança.

Ambos têm boa aceitação entre os seus, mas não passam confiança. De acordo com as últimas pesquisas de intenção de votos, o problema são os eleitores dos demais ou mesmo os de um que não querem o outro e os de outro que não aceitam um. Enquanto brigam pelo Poder, aqueles que dependem do Poder ficam ao sabor da maré, ou seja, vão de um lado para outro e não sabem se sobreviverão como cidadãos a partir de outubro. É o preço do mau uso do sistema coletivizado, a popular democracia. Gostem ou não, queiram derrubá-la ou desrespeitá-la, pior é não tê-la. Por isso, antes de apostarmos no quanto pior, melhor, vale a pena lembrarmos que os opostos respondem pelas alcunhas de absolutismo, autoritarismo, despotismo e ditadura.

E o que nos resta? Quase nada que nos deixe à vontade para escolher despreocupadamente. Temos uma fragmentação de candidatos à Presidência, embora, antecipadamente, saibamos que a definição ocorrerá a partir de uma cristalina centralização de extremos ideológicos. A situação é crítica. Causa delirium tremens as hipóteses postas: correr e ser engolido pela mesmice de anos anteriores ou ficar e ser perseguido pelo continuísmo indesejável. A percepção do que sobra é de tirar a paz, a alegria e a sonhada harmonia entre os brasileiros.

Não é hora de afirmarmos que estamos politicamente próximos do fim no Brasil. Talvez ainda estejamos longe disso, mas precisamos conviver amistosamente com um postulante amarrado a um sistema que ele odeia e que, vez por outra, ameaça pública e violentamente. É o maior exemplo de democracia, regime que permite a qualquer um dizer o que pensa e deseja. Da mesma forma, a soberania popular garante a qualquer pretendente disputar cargos de peso mesmo com um passado cheio de manchas e aparentemente muito distante dos devidos ensaboamento, enxaguamento e secagem. Infelizmente, tudo isso virou tarefa fácil no Brasil. Difícil é transformar desejos e sonhos escusos em realidade.

Não tenho voto fechado em nenhum dos concorrentes. Na verdade, faço parte da corrente sã e consciente de que hoje o melhor dos caminhos ainda é de uma via sem a buraqueira dos esquemões de pilhagem do dinheiro público e sem os desvios de conduta de zero, um, dois ou três. É uma via que não se consolida, mas vamos acreditar e tentar convencer somente aqueles que não se acham convencidos. Devemos esquecer os do cercadinho e os do baião de dois. Não percamos a fé na humanidade, que permanece como um oceano. Como disse Mahatma Gandhi, algumas gotas sujas não torna o oceano sujo. Por isso, entendamos de uma vez que, ao contrário do peru, que morre de véspera no Natal, eleição se ganha no voto e somente após a contagem do último sufrágio. Portanto, até lá tudo pode acontecer, inclusive nada.

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