Lá estava ela, esbelta, vestindo vermelho, mesmo sabendo que é o azul do céu que vem mudando a sua sorte. Ao seu lado, no palco, a nata da Esplanada dos Ministérios. À sua frente, aplaudindo, mais d mil pessoas, se acotovelando. Ela é Simone Tebet, a senadora pelo MDB do Mato Grosso do Sul que, disputando contra Lula o Palácio do Planalto no primeiro turno, assumiu, no primeiro minuto após s ver for da corrida eleitoral, que seu candidato era o petista.
Simone agora é ministra do Planejamento e Orçamento. Nada melhor do que tomar posse em cerimônia realizada na casa onde trabalha o presidente da República. Desde o dia 1º, quando Lula recebeu pela terceira vez a faixa presidencial, nunca se viu tanta gente no Palácio do Planalto. O recado dela foi direto: os pobres serão tratados com prioridade no orçamento público.
“Os pobres estarão prioritariamente no orçamento público. A primeira infância, idosos, mulheres, povos originários, pessoas com deficiência, LGTBQIA+. Passou da hora de dar visibilidade aos invisíveis. Tem de abarcar todas essas prioridades, sem deixar de ficar de olho na dívida pública”, anunciou a ministra.
Simone Tebet destacou ainda que pretende conciliar as promessas de governo e os programas sociais com a responsabilidade fiscal, mas reconheceu que não será uma tarefa fácil.
“O cobertor é curto. Não temos margem para desperdícios ou erros. Definidas as prioridades por cada ministério, caberá ao Ministério do Planejamento, em decisão técnica e política com as demais pastas econômicas e com o presidente Lula, o papel de enquadrá-las dentro das possibilidades orçamentárias”, disse Simone.
Apesar das conhecidas divergências sobre a política econômica que tem com o ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT), a senadora em fim de mandato destacou um dos pontos de convergência com o colega: a defesa de uma reforma tributária, “esperada há anos”.
“Comungamos com a visão do Fernando Haddad, da necessidade premente de cuidar dos gastos públicos e da aprovação urgente de uma reforma tributária, para garantirmos menos tributos sobre o consumo, um sistema tributário menos regressivo, com simplificação e justiça tributária. Somente assim teremos o crescimento necessário para garantir emprego e renda de que o Brasil necessita”, afirmou.
Ao agradecer o presidente Lula pela nomeação “em um dos ministérios mais importantes” do governo, Simone Tebet, que nunca escondeu preferência pela área social, disse como recebeu o convite para o Ministério do Planejamento. Ela contou que antes do Natal recebeu um envelope do presidente Lula e que ele pediu que ela só abrisse após o Natal. Ao abrir o envelope, viu o convite para chefiar a pasta e ficou surpresa. Ela lembrou a Lula sobre as “divergências econômicas” com os demais integrantes da equipe, como o Fernando Haddad.
“Lula me ignorou, como se dissesse: ‘é isso que eu quero. Sou um presidente democrata. Quero diferentes para somar, pois é assim que se constrói uma sociedade democrática'”, ressaltou a ministra sob aplausos.